27 de julho de 2016 | N° 18592
MARTHA MEDEIROS
Gafes virtuais
Entrou uma mensagem no meu WhatsApp de um ator bonitão, com quem eu nunca havia falado na vida, me convidando para um café a fim de conversarmos sobre uma possível parceria profissional. Disse a ele que seria complicado assumir o projeto que ele me propunha por questão de prazo, perfil e outros impedimentos, mas ele pediu que eu ao menos escutasse o que ele tinha a dizer e acabamos marcando o tal café, em tal lugar, a tal hora. Depois de tudo combinado, quis ser simpática e encerrar a troca de mensagens com um emoji sorridente ou com uma mãozinha com o polegar levantado, mas me atrapalhei e mandei um coração vermelho, gigantesco, batendo forte. Pura paixão.
Logo digitei o inevitável “ops, errei”, ele respondeu que já havia cometido mancadas muito piores, hahahaha, kkkkkkk, e por fim a despedida sóbria, como convém a dois estranhos.
Às vezes, tenho vontade de esganar Steve Jobs, Mark Zuckerberg e demais gênios do Vale do Silício que inventaram essas geringonças eletrônicas para conectar os povos e de quebra perpetuar gafes universais.
Você está no WhatsApp com uma amiga, aquela que sabe um segredo embaraçoso sobre você, e ao mesmo tempo com um grupo de 16 outras amigas (conversas simultâneas entre vários destinatários sempre me faz lembrar o filme Koyaanisqatsi). Ca-la-ro, como diria Alberto Roberto, que você vai mandar para todo o grupo, por engano, o comentário sigiloso que era destinado apenas à sua amiga confidente. E dá-lhe voltas para fazer com que as outras 15 pensem que entenderam o que não entenderam. Expert em enrolation: quem de nós não se tornou um?
Sobre o corretor automático, nada mais a declarar. É o maior puxa-tapete do espaço virtual.
Mas nada se compara aos enganos perpetrados por nossos dedinhos automáticos. Sei de mãe que já mandou nude para a própria filha quando deveria ser para os olhos do namorado only, sei de gente que por engano convidou para um jantar familiar o empreiteiro com quem estava negociando um orçamento, sei de empregador que mandou uma minuta de contrato para o funcionário errado e se viu obrigado a reajustar o salário dele, sei de homem que mandou declarações apaixonadas para a própria mulher e teve que explicar que romantismo todo era aquele depois de 31 anos de casados.
Sem falar das vezes em que a gente toca em cima da foto do perfil e acaba acionando o telefone, ligando para a criatura sem querer – nossos dedos, além de automáticos, são gorduchos demais para essas telas mínimas.
Ato falho? Sei não. Significaria que estamos o tempo todo enviando mensagens que nossa consciência não autoriza, e por isso o subconsciente se intromete e faz acontecer. Será? Prefiro acreditar que é apenas dislexia digital – e acidental. Ops.
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