quinta-feira, 7 de julho de 2016


07 de julho de 2016 | N° 18575 
L.F. VERISSIMO

Data querida


A gente não faz aniversários, os aniversários é que vão fazendo a gente. E depois, lentamente, desfazendo. Pode-se medir a passagem do tempo pelos diferentes significados da frase “feliz aniversário!”. Do “feliz aniversário!” significando “hoje é seu dia, que alegria, mais um ano da sua vida, comemore porque você merece etc.” ao “feliz aniversário” significando “hoje é seu dia, que chato, mais um ano da sua vida que se vai, mas não ligue, não, e comemore – com moderação”.

Não critique festa de rico paga com dinheiro público. O valor simbólico de um aniversário justifica tudo. Ele é a marca da nossa integração com o universo – ou pelo menos no Sistema Solar. Assim como a Terra, nós também completamos uma volta em redor do Sol. Não falta quem preferiria acompanhar cada volta de Saturno em torno do Sol, e um ano levar mais tempo para passar. Não pegaram o espírito de Jurerê. Quanto mais festa melhor.

Antigamente, cantava-se só o Happy birthday, em inglês, para o aniversariante. Depois é que surgiu o Parabéns a você, dizem que porque ninguém acertava como fazer com a língua no “th” do “birthday”.

Fora o Parabéns, as festas de aniversário não mudaram muito através dos anos. Hoje, as velas do bolo depois de apagadas acendem de novo, e de novo, e de novo, até o aniversariante impaciente enterrá-la no bolo com um tapa. Festas de aniversário para crianças modernas são organizadas por empresas especializadas que cuidam de tudo, desde a decoração do ambiente até os doces e os shows de palhaços e mágicos que as crianças ignoram, preferindo fazer guerra de brigadeiros.

O que realmente mudou com o tempo foi festa de aniversário para adultos. Hoje é comum convidarem uma “stripper” (nome que nenhum prurido nacionalista ainda aportuguesou) para o entretenimento quando o aniversariante é homem. O show geralmente termina com a “stripper” nua no colo do aniversariante ou o aniversariante no colo da “stripper” nua. Mas novidade mesmo é “stripper” masculino tirando a roupa em aniversário de mulher. 

A extensão da sua nudez depende de certos fatores, como a presença ou não na festa da tia Isoldina, que desmaiou na frente do Davi de Michelangelo, ou de não ter havido um mal-entendido – como na vez em que o “stripper” se recusou a tirar a cueca e finalmente conseguiu dizer que não era “stripper”, só estava ali para entregar uma pizza.

E vamos nós para mais uma volta ao redor do Sol.

Nenhum comentário: