12 de julho de 2016 | N° 18579
COMPORTAMENTO -
VICIADOS EM LIKES
ESTUDOS MOSTRAM que as redes sociais estão deixando os usuários sedentos por aprovação
Confesse: ver seu post cheio de likes é bem legal. Muita gente sente o mesmo – e não é por acaso. Quando recebemos uma curtida, nosso cérebro gera uma descarga de dopamina, mesmo neurotransmissor produzido quando comemos chocolate, fazemos sexo ou ganhamos dinheiro. Na prática, Facebook e Instagram nos dão prazer. E, ao que parece, estamos ficando “viciados” – pelo menos os mais jovens.
É o que indica um estudo feito na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e publicado em maio deste ano na revista Psychological Science. A pesquisa mostrou que o cérebro de adolescentes fica exultante com likes. Trinta e dois voluntários de 13 a 18 anos participaram de um experimento à la Instagram: em frente ao computador, foram expostos a 148 fotografias, das quais 40 eram deles mesmos.
Ao lado de cada imagem, havia o número de curtidas dadas pelos outros jovens – na verdade, a quantidade era designada pelos pesquisadores. Os cientistas notaram que o núcleo accumbens, parte do circuito de recompensa do cérebro, era ativado toda vez que os adolescentes visualizavam suas próprias fotos com muitos likes. Feedbacks positivos, aparentemente, os deixavam felizes.
Muito provavelmente eles não estão sozinhos. Reação semelhante pode ser compartilhada pelas 1,3 bilhão de pessoas que fazem parte do Facebook. Se fosse um país, a rede seria a segunda maior nação do mundo. E seus habitantes estariam unidos em torno de alguns objetivos em comum: entre eles, compartilhar informações, stalkear, curtir posts e ganhar likes.
Para os críticos das tecnologias, estamos modificando nosso comportamento para conquistar mais curtidas, sobretudo os mais jovens. Em última instância, fica- ríamos cada vez mais vulneráveis à aprovação dos outros.
– Acredito ser possível que um tipo de vício possa ocorrer com likes e outros feedbacks virtuais. Eles são bons de receber, e algumas pessoas aparentemente anseiam por eles – afirma William Keith Campbell, professor de Psicologia na Universidade da Geórgia (EUA) e autor de três livros sobre o aumento do narcisismo nas novas gerações.
Essa possível mudança de comportamento foi sinalizada em um estudo de 2012 feito com 292 voluntários pela Universidade de Illinois, também nos EUA. O trabalho mostrou que, quanto mais amigos uma pessoa tem no Facebook, mais narcisista ela tende a ser. Ao mesmo tempo, aumentam as chances da publicação de comentários agressivos.
– Podemos, sim, ficar meio viciados em likes. Conforme as pessoas se refugiam nas redes, elas perdem a habilidade de se relacionar com os outros. Você vê jovens que não se relacionam ao vivo, mas estão nos smartphones. Isso gera a incapacidade de ler a emoção dos outros e faz a pessoa se refugiar dentro da vida online, porque lá temos mais controle – explica Cristiano Nabuco, coordenador do grupo de dependências tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da USP.
Reações nesse nível preocupam Sherry Turkle, professora de Psicologia do Massachusetts Institut of Technology (MIT) e referência mundial nos estudos do impacto da tecnologia na sociedade. Ela acredita que o uso massivo das plataformas digitais nos deixa com menos empatia e mais preguiçosos, egoístas e narcisistas. Em seu mais recente livro, Reclaiming conversation, ela tenta responder a uma difícil pergunta: por que preferimos redes sociais à conversa presencial?
AUTOBIOGRAFIA EM EDIÇÃO NAS REDES
Mark Zuckerberg faz de tudo para isso. Os algoritmos do Facebook privilegiam que visualizemos publicações de quem pensa como a gente. Esse ambiente fraterno é perfeito para que o usuário se exponha e construa uma imagem de si. Caso ele se arrependa, basta deletar. É o que alguns especialistas chamam de “autobiografia em edição”. Em outras palavras, é a busca de modificar a memória que os outros têm de nós. Bom, ao menos a memória online.
O ideal é que o ato de postar seja visto de forma crítica. É o caso da blogueira de moda Júlia Fleck. Com 41 mil seguidores em sua página do Facebook e 12,8 mil no Instagram, a porto-alegrense posta de forma comedida para não cansar os seguidores. Ela evita conteúdos polêmicos: prefere publicar fotos com seus cachorros e conteúdos de moda. Júlia também confessa manter no smartphone o InstaFollow, um aplicativo para monitorar quem parou de segui-la. Atualmente, o recurso foi baixado por mais de 10 milhões de pessoas.
– Fico chateada quando uma pessoa de quem gosto ou que admiro para de me seguir. É como se ela não me admirasse de volta. Fico me perguntando: será que publiquei algo que fez ela parar de me seguir? – questiona.
MARCEL HARTMANN | ESPECIAL
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