terça-feira, 26 de julho de 2016


26 de julho de 2016 | N° 18591 
DAVID COIMBRA

Wachstumsbeschleunigungsgesetz


Era muito citada, até os anos 80, a doutrina da “Destruição Mútua Assegurada”. Em inglês, “Mutual Assurance Destruction”, sigla que resulta em MAD. Não por acaso: a palavra mad significa loucura. Essa doutrina era, realmente, produto da maior loucura da raça humana em todos os tempos.

Talvez você ache que louco estou ficando eu, ao falar de eventos da Guerra Fria, quando há tanto de loucura no mundo de hoje. Mas chegarei lá. Ou, melhor: chegarei cá, porque tudo está relacionado.

O mundo do século 21 está como está e é como é devido a uma ocorrência da primeira metade do século 20, o maior acontecimento da história da civilização: a II Guerra Mundial. Apenas seis anos transformaram a humanidade para sempre.

A Destruição Mútua Assegurada, inclusive, é fruto da II Guerra.

Começou quando Einstein entregou uma carta a Roosevelt alertando que os cientistas alemães estavam preparando uma arma que tornaria os exércitos do Reich invencíveis e obrigaria todos nós, hoje, a pronunciar palavras como Wachstumsbeschleunigungsgesetz.

A arma a que ele se referia era a bomba atômica.

Os americanos, então, puseram em movimento todo o seu poderio econômico e logístico a fim de implantar o Projeto Manhattan. Não foi pouca coisa: o governo mobilizou 130 mil pessoas e construiu uma cidade no deserto do Novo México para chegar à bomba atômica antes dos alemães.

Deu certo, como se sabe.

Durante quatro anos, os americanos detinham o maior poder da Terra. Eles eram como eu no jogo da velha: imbatíveis e inigualáveis. Quando havia algum problema, seus generais sempre cogitavam da possibilidade de dissolver 100 ou 200 mil pessoas atomicamente e resolver a questão com a rapidez que resolveram com os japoneses, que, mesmo sendo teimosos como são japoneses, renderam-se em uma semana, depois que Little Boy foi jogada sobre Hiroshima.

Só que, em 1949, os soviéticos também detonaram a sua bomba e passaram a fazer outra e outra e mais outra. Ou seja: havia duas nações capazes de deixar o mundo entregue literalmente às baratas e encerrar de vez a discussão sobre quem é melhor: Grêmio ou Inter.

Durante toda a década de 50, americanos e soviéticos empenharam-se em fabricar armas nucleares de todos os tipos e para todos os gostos. Aí, em 1962, os soviéticos instalaram uma base nuclear em Cuba, a 150 quilômetros da Flórida. Quer dizer: nem precisavam de avião para fechar todo o reluzente comércio de Miami para sempre, impedindo o Lobão de se mudar para lá.

Foi a chamada “Crise dos Mísseis”. Os americanos queriam que os russos removessem seus mísseis nucleares de Cuba e os russos queriam que os americanos removessem seus mísseis nucleares da Turquia. Nenhum lado queria ceder. Kennedy foi à TV e expôs o problema aos americanos e, por consequência, ao mundo: se um dos dois não recuasse, a III Guerra Mundial seria decretada e Megan Fox não teria nascido.

O impasse durou duas semanas, até que Kennedy e Kruschev, o primeiro-ministro soviético, entraram em um acordo – os mísseis da Turquia e de Cuba foram retirados.

Essa foi a primeira demonstração da teoria da Destruição Mútua Assegurada. Que diz o seguinte: cada um dos inimigos tem tamanho poder de destruição, que uma guerra entre eles levaria ao extermínio de ambos. Assim, como os dois têm medo de morrer, nenhum ataca.

Por essa teoria, o temor da guerra garante a paz.

Mas... falarei sobre o que vem depois do “mas” amanhã.

Nenhum comentário: