07 de julho de 2016 | N° 18575
CARLOS GERBASE
BILHÕES
Os produtores de House of cards já deram mostras de que acompanham a trama da Operação Lava-Jato aqui no Brasil. Tempos atrás, o Twitter oficial da série norte-americana publicou: “Em português, eles não dizem ‘impeachment’, eles dizem ‘se inspirar em Francis Underwood’”.
Os roteiristas também já admitiram que a realidade brasileira dá de goleada em suas ficções para retratar a luta pelo poder. Enquanto aguardamos, ansiosos, a próxima temporada da série dos gringos – e sempre vale a pena abrir o jornal para acompanhar a tupiniquim –, sugiro prestar atenção em outro seriado, que encerrou há pouco sua primeira temporada nos EUA: Billions.
O cenário é o bairro financeiro de Nova York, que Hollywood tem explorado com títulos como O lobo de Wall Street, de Scorsese, Wall Street – O dinheiro nunca dorme, de Oliver Stone, e A grande aposta, de Adam MacKay, com resultados irregulares. Talvez seja bem mais fácil para os americanos compreenderem os detalhes das monstruosas transações financeiras feitas em frações de segundo nas bolsas.
Confesso que nesses filmes, assim como em Billions, tive certa dificuldade para separar o que é genialidade e o que é transgressão. Nossa Lava-Jato – que trata de coisas mais simples, como editais superfaturados, propinas milionárias e compras na Louis Vuitton – facilita a vida do espectador.
Billions, contudo, tem uma grande vantagem: uma dupla de antagonistas sensacional, vivida por dois grandes atores (vamos convir que Eduardo Cunha é um canastrão de última categoria e Sérgio Moro ficaria melhor num filme de Sergio Leone). Paul Giamatti (de Sideways) é um promotor e está do lado da lei, enquanto Damian Lewis (que conhecemos de Homeland) é um megaespeculador e está do lado da fraude. Parece fácil decidir para quem torcer, mas a trama nos leva a odiar os métodos imorais (e às vezes ilegais) utilizados pelo Homem do Bem para pegar o Homem do Mal.
O que deveria ser um embate cristalino entre a Luz e as Trevas transforma-se numa luta em terreno pantanoso, cinza e nojento. Se o Brasil conseguir cobrar seus merecidos direitos autorais, talvez consiga alguns bilhões, o que nos ajudaria a sair mais rápido da nossa crise e mostrar ao mundo que somos os verdadeiros líderes da indústria criativa.
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