12 de julho de 2016 | N° 18579
LUÍS AUGUSTO FISCHER
PONTO ZERO
O novo filme de José Pedro Goulart, Ponto zero: este é o ponto. Adolescente hostilizado por amigos em plena rua, diante das gurias, vive seu tormento particular de tentar avançar na descoberta das coisas do sexo. O pai, radialista sensacionalista; a mãe, do lar; entre os dois não sobra mais sentimento nem convivência decente.
Casa ampla e confortável, mas no fim das contas hostil ao guri. Aí ele, uma noite, rouba o carro do pai para visitar uma profissional do sexo, mas ocorre um acidente, numa Porto Alegre chuvosa, e tudo piora.
Essa história vem emoldurada por duas cenas simétricas, filmadas com requinte e força, narradas desde dentro da água da piscina. Nelas vemos o protagonista, quando ainda criança, sendo jogado pelo pai para a água, como quem diz: “Te vira”. E ele se vira, como no final vai se ver e eu não devo contar aqui.
Cenas inteligentemente flagradas, algumas vezes em conexão altamente produtiva com o desenvolvimento do enredo – como aquelas panorâmicas noturnas sobre a cidade anônima e multitudinária, bem quando o adolescente está ligando para a moça do sexo –, são momentos notáveis das inegáveis virtudes visuais do filme, que porém forçam a mão na superpresença de água. (Gente como nós, da província, sempre vibra interiormente quando a cidade da gente se revela diante de nossos olhos, na sala escura ou nas telinhas.)
Mas o filme tem pelo menos dois grandes problemas, a meu juízo. Um é a relativa frouxidão dramática do personagem paterno. A rigor, ele nem precisaria aparecer para que fosse nítida sua posição de pai omisso bem naquela hora em que o guri passa a homem. E outra, mais grave e menos óbvia, é a imensa, pesada e para mim incompreensível nuvem de culpa que cerca a história toda. Nestes libérrimos anos 2000, por que bom motivo a iniciação sexual é tão travada, tão culposa, tão penalizada?
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