sexta-feira, 15 de julho de 2016



15 de julho de 2016 | N° 18582 
DAVID COIMBRA

O Brasil mudou

Estive no Brasil em meados de abril. Voltei no final de junho. Em abril, quando conversava com as pessoas em qualquer lugar, fosse em um restaurante, fosse no bar da Redação, o assunto era sempre o mesmo: política. Tentava falar de outras coisas; não adiantava. Mulher, futebol, nada interessava, só a política. Era sempre tenso, e às vezes cansativo.

Dois meses depois, estando com as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, a situação era outra. Grêmio e Inter voltaram a ser o que há de mais importante em solo gaúcho em todos os tempos, e os dramas comezinhos de casamentos feitos ou desfeitos deixaram de ser comezinhos. A política, quando abordada, sempre o foi distraidamente, sem gana e sem paixões.

Tenho a impressão de que o brasileiro está saturado das discussões políticas. Não que não se interesse mais pelo que está acontecendo em Brasília ou que ache que os problemas estejam resolvidos. Nem desiludido o brasileiro parece estar. O brasileiro parece estar, apenas, farto. Os debates desgastantes fizeram exatamente isso: desgastaram. Estão todos cansados.

O Brasil está voltando ao normal. Isso é saudável – ninguém suporta tanto tempo de pressão. Ainda assim, o Brasil nunca mais será o que era. Neste ano e meio, o país amadureceu, tornou-se mais sério. O que pode ser muito bom, ou nem tanto.

Um detalhe importante: o hormônio da adolescência que fez o Brasil amadurecer não foi a revolta com a corrupção caudalosa e ubíqua revelada pela Lava-Jato. Não. Foi o fel da discórdia. As brigas entre parentes e amigos, as virulentas e violentas discussões nas redes sociais e nas mesas de bar, o clima de animosidade que tornou o ar pesado, foi isso que transformou o Brasil.

A maioria dos petistas não compreendeu e ainda não compreende o que se passou, mas alguns já estão assimilando a realidade. Que é a seguinte: a corrupção não é o maior mal dos petistas; é a arrogância. Para os petistas, ou você é petista, ou é canalha. Não existe a possibilidade de você estar errado honestamente. Para um petista, você não discorda dele por estar errado, mas por ser um vendido, um direitista, um inimigo dos pobres.

Foi isso, foi esse comportamento excludente que destruiu o PT, foi essa prepotência que irritou as pessoas e as arrastou para as ruas. A corrupção não foi a causa da revolta; foi a justificativa.

Há duas leis que se aplicam nesse caso. Uma da física: a Terceira Lei de Newton. Outra da filosofia: a Dialética de Hegel.

A de Newton diz que para cada ação há uma reação de igual potência no sentido oposto.

A Dialética diz que a História se move entre teses e antíteses. Você lança uma tese e logo alguém lança uma tese contrária, a antítese. Das duas surge a síntese, que se transforma numa nova tese, que gera nova antítese.

O Brasil passou um ano e meio agitando-se em ação e reação, debatendo-se entre teses e antíteses. Estamos chegando à síntese. Que seja uma evolução.

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