09 de julho de 2016 | N° 18577
ANTONIO PRATA
COISAS QUE EU FARIA
Se eu fosse um bilionário entediado, já tivesse bebido os vinhos mais caros, comido as trufas mais raras, me hospedado em castelos e dado rolês em ônibus espaciais: compraria um sítio com uma paisagem a perder de vista, compraria uma bazuca, encheria essa paisagem a perder de vista com Fuscas, Brasílias, Del Reys e – por que não? – Land Rovers a perder de vista, encheria um cálice de bourbon e passaria uma tarde inteira explodindo carros. (De noite, após um banho de cachoeira, leria Proust.)
Se eu fosse um bilionário engajado, já tivesse investido na Amazônia e nas baleias, no Zimbábue e no ozônio, na alfabetização, na fibra de coco e na energia solar: criaria uma bolsa sabática. Nada de financiar pesquisas, estudos, livros, filmes, como fazem essas incríveis instituições tipo a Fulbright, a Ford, a antiga Vitae. A minha instituição financiaria um ano de vagabundagem, seria a Fulbright Farniente.
Um candidato se proporia a assistir aos principais campeonatos mundiais de futebol, in loco. Aprovado. Outro diria gostar muito da luz da manhã e pediria para viajar o mundo por um ano, aproveitando o amanhecer em Lisboa, no deserto do Atacama, no topo do Himalaia. Aprovado. Outra diria: “Eu e o Jurandir, a gente gosta muito de massa, mas nunca foi pra Itália, então a gente tava pensando em passar 2017 por lá, comendo uns macarrãozinho (sic)”. Tá aqui o dinheiro, amiga.
Um candidato se proporia a assistir aos principais campeonatos mundiais de futebol, in loco. Aprovado. Outro diria gostar muito da luz da manhã e pediria para viajar o mundo por um ano, aproveitando o amanhecer em Lisboa, no deserto do Atacama, no topo do Himalaia. Aprovado. Outra diria: “Eu e o Jurandir, a gente gosta muito de massa, mas nunca foi pra Itália, então a gente tava pensando em passar 2017 por lá, comendo uns macarrãozinho (sic)”. Tá aqui o dinheiro, amiga.
Se eu fosse o presidente dos Estados Unidos no Discurso do Estado da União, televisionado ao vivo para o mundo: começaria cantando “Mariana conta um/ Um conta Mariana/ É um, é Ana/ Viva Mariana!”. Terminada a música, faria a cara mais contrita, pediria desculpas, diria, “brincadeira, fellow americans! Agora, falando sério” – e cantaria “Um elefante incomoda muita gente/ Dois elefantes incomodam muito mais” até chegar a 58 elefantes ou até o serviço secreto cortar a transmissão e me levar dopado pra Guantánamo – o que vier primeiro.
Se eu fosse um Deus altruísta: encarnava de novo e passava uns tempos resolvendo essa inhaca sobre a qual não se pode dizer que Ele (ou Eu) é (ou sou) inteiramente inocente.
Se eu fosse um Deus egoísta: desencanaria dessa inhaca de uma vez por todas, encarnaria com uma pinta de Leonardo DiCaprio e passaria a eternidade me esbaldando por aí. (Aos domingos, iria para o meu sítio tomar bourbons e explodir Del Reys.)
Se eu fosse um Deus piadista: encarnaria como presidente dos Estados Unidos num Discurso do Estado da União, cantaria “Mariana conta um” e “Um elefante incomoda muita gente” até o serviço secreto tentar dar sumiço em mim, então sairia levitando sobre as cabeças dos congressistas atônitos e sob os olhos esbugalhados de boa parte da população mundial, diria, com uma voz tonitruante: “Eu sou Javé, El Shadai! Eu sou aquele que é e tudo pode! Posso inclusive cantar ‘Mariana conta um’ e ‘Um elefante incomoda muita gente’ no Discurso do Estado da União dos EUA, ó fariseus!”. E todos se curvariam. E eu bradaria “Toca Rauuul!”. E voltaria pras alturas.
Se eu fosse um gato: faria exatamente o que os gatos fazem. (Talvez, apenas, me lambendo com menos frequência.)
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