quarta-feira, 20 de julho de 2016


20 de julho de 2016 | N° 18586 
DAVID COIMBRA

Leituras de um americanófilo


Meus detratores (tenho muitos, viu, mãe?) dizem que sou americanófilo.

Eles têm razão. Sou mesmo.

Mas também sou germanófilo e francófilo. Na verdade, admiro e estudo várias dessas nações ocidentais, inclusive o Japão, que é o mais ocidental dos países orientais.

Como não se deixar encantar pela Itália, por exemplo. Durante mil anos, a Itália dominou o Ocidente pela força das legiões. Depois, por outros mil, pela força da religião. E, há cinco séculos, transformou o gênio humano em matéria sublime com a arte do Renascimento. Para arrematar, a Itália deu ao mundo a Sophia Loren e a Claudia Cardinale e, ao Sarkozy, a Carla Bruni.

Mesmo assim, admito que meu interesse maior, atualmente, é pelos Estados Unidos. Porque é onde vivo e porque é um país parecido com o Brasil. Podemos aprender com os americanos: copiar o que eles fazem de bom, repudiar o que eles fazem de ruim.

Uma das convicções mais sólidas que formei, nesse meu tempo no norte da América do Norte, é que a estrutura da federação americana devia ser imitada pelo Brasil. Estados autônomos e municípios fortes – eis o cimento da sociedade americana.

Por apreciar o tema, entusiasmei-me com um livro lançado recentemente pela L&PM: Uma breve história dos Estados Unidos, de James West Davidson. Aí está alguém que conta a história como a história deve ser contada. Nesse livro, Davidson tenta entender por que os Estados Unidos são como são. E consegue.

Há relatos saborosos de personagens grandes e pequenos da América. Um deles, um jovem do Leste chamado Sam Clemens, que “comprou uma camisa de flanela e um grande chapéu de feltro, deixou crescer a barba e o bigode” e foi para o Oeste, em busca de ouro. Passou cinco meses em Nevada, escavando sob o sol durante os calores do dia e padecendo durante o frio da noite em uma cabana mal vedada. Um dia, desesperado, escreveu ao irmão, pedindo que lhe mandasse qualquer dinheiro que tivesse: “Quero fazer fortuna ou falir de uma vez. Minhas costas estão doendo e minhas mãos, cheias de bolhas”.

Como esperava, Sam faliu. Por US$ 40 mensais, aceitou emprego em uma fábrica que triturava minérios. Quando recebeu o primeiro salário, enfureceu-se. Marchou até o patrão e exigiu um aumento: queria não US$ 40 por mês, mas, no mínimo, 400 mil. Foi demitido na hora.

Sam voltou para o Leste e, como não esperava, acabou fazendo fortuna. Não como mineiro: ele mudou o nome para Mark Twain e escreveu um livro chamado Huckleberry Finn. Dessa obra, Hemingway disse o seguinte: “Toda a literatura americana se origina desse livro. Não havia nada antes. Não houve nada tão bom desde então”.

Não é lindo?

É linda a história contada por James West Davidson. Leia o livro, mesmo que você não seja americanófilo. Você vai gostar.

Nenhum comentário: