terça-feira, 19 de julho de 2016



19 de julho de 2016 | N° 18585

EDUCAÇÃO

CRISE DITA DESAFIOS 

AO ENSINO SUPERIOR PRIVADO

INSTITUIÇÕES PARTICULARES tentam manter a qualidade em um cenário de redução de custos e de matrículas

Depois de anos em ascensão, enquanto as condições econômicas e o apoio do governo federal desenhavam um cenário favorável à expansão, as instituições privadas de Ensino Superior começaram a sentir os efeitos da crise. Com a restrição maior ao financiamento estudantil e a constante dificuldade de manter alunos capazes de arcar com os custos da educação, elas buscam manter a qualidade ao mesmo tempo que veem número de ingressantes, créditos contratados e receita diminuírem.

O aperto nas contas, que atinge as universidades desde o início do ano passado, significa que a construção de novos campi, a oferta de mais cursos e a revitalização de laboratórios, entre outros planos, acabam ficando para depois – quando não são cancelados. Neste contexto, prédios deixam de ser erguidos, salas não passam por reformas e profissionais ficam sem promoção.

CAMINHO MAIS LONGO ATÉ A FORMATURA

A crise atinge o bolso de todos. Para professores, que veem menos turmas sendo formadas, a quantidade de horas/aula diminui, o que tem influência direta nos salários. Para os estudantes, cada vez mais preocupados com as contas, o aproveitamento também pode cair e resultar em um período maior até a formação. Isso se não acabar levando à desistência.

– Neste ano, começamos efetivamente a ver quedas. Ninguém tem investido como investia nos anos anteriores, em razão de toda essa situação de incerteza que ainda se vive – explica o presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe) no Estado, Bruno Eizerik.

Os anos de expansão foram pavimentados, em especial, por dois objetivos: ampliar o acesso ao Ensino Superior, tanto na rede pública quanto na privada, e facilitar o pagamento das mensalidades ou aumentar as possibilidades de isenção a quem optasse por uma faculdade particular. Para tanto, foram criados diversos programas, como o Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), ambos sob coordenação do Ministério da Educação (MEC) e alvos de alterações que resultaram em cortes nos últimos anos.
PLANOS DE EXPANSÃO FICAM PARA DEPOIS

Esse caminho de ampliação, agora, chega a uma encruzilhada. Com orçamento cada vez mais contido, as faculdades, universidades e centros universitários da rede particular precisam não mais batalhar para crescer, mas lutar para conseguir se manter dentro da própria estrutura.

– Como a receita está diminuindo muito, temos de fazer ajustes. Há custos básicos, com professores, laboratórios, de que não podemos abrir mão. Mas outras iniciativas, como intercâmbio de professores e ampliação da infraestrutura, precisam ser revistas – diz José Carlos Carles de Souza, vice-presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung).

Responsáveis por abrigar a maior parte dos estudantes que estão matriculados em uma faculdade, as instituições particulares são fundamentais para que o Brasil possa atingir uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE): a de elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior de 34,2%, em 2014, para 50% até 2024. Como em uma difícil etapa do vestibular, são elas agora que terão de provar sua resistência.
guilherme.justino@zerohora.com.br
GUILHERME JUSTINO
PANORAMA GAÚCHO
INGRESSOS
- 50% das instituições privadas do RS registraram queda de mais de 10% no número de ingressantes no primeiro semestre
- Apenas um terço delas manteve a mesma quantidade de novos alunos que em 2015
CRÉDITOS
- Em 55,6% das instituições, os alunos contrataram menos créditos no início de 2016 do que no primeiro semestre do ano passado
-Em 27,8% delas, a redução passa de 10%
PAGAMENTO
- A inadimplência média ficou entre 10% e 15% em 2015
-61,1% das instituições de Ensino Superior do Estado informaram resultado piores nesse quesito do que em 2014
FIES
- 56,3% é a redução na quantidade de contratos firmados pelo Fies no primeiro semestre de 2016, comparado com o mesmo período de 2015
NÚMEROS DO SETOR
Fonte: Fonte: Sinepe/RS
NO BRASIL
Taxa de inadimplência nas instituições de ensino superior privadas (atrasos de mais de 90 dias), em %
2009 10,0
2010 9,6
2011 8,5
2012 8,4
2013 7,9
2014 7,8
2015 8,8
2016 9,0*
EM INSTITUIÇÕES DE PEQUENO PORTE
(ATÉ 2 MIL ALUNOS)
2013 9,2
2014 9,3
2015 10,4
EM INSTITUIÇÕES DE MÉDIO PORTE
(DE 2 MIL A 7 MIL ALUNOS)
2013 5,8
2014 5,5
2015 6,7
EM INSTITUIÇÕES DE GRANDE PORTE
(ACIMA DE 7 MIL ALUNOS)
2013 6,6
2014 6,7
2015 7,1
Fonte: *Previsão
VAGAS OFERECIDAS PELO FIES
2014
732 mil
2015
278 mil
2016
147 mil*
Fonte: Fonte: Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp)

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