15 de julho de 2016 | N° 18582
NÍLSON SOUZA
SANGUE NA ARENA
Parem o mundo, que eu quero descer – pelo menos até me recuperar um pouco.
Na semana passada, um touro e um toureiro morreram na praça de Teruel, na Espanha. Os touros sempre morrem, depois de serem barbaramente torturados. Mas, no calendário do improvável, também existe um dia da caça – e, na tarde do último sábado, o animal de nome Lorenzo levou a melhor sobre o matador Victor Barrio, acertando uma chifrada fatal no seu peito. Mais tarde, como é praxe, o bicho foi sacrificado. E, segundo a tradição das corridas de touro na Espanha, a mãe do touro também deveria ter o mesmo fim, alegadamente para interromper a linhagem que produziu o “assassino”.
O episódio despertou uma verdadeira guerra virtual entre os amantes das touradas e os defensores dos animais, com ataques tão furiosos de ambos os lados, que o próprio touro – se tivesse sobrevivido – morreria de vergonha. Primeiro foi a celebração pela morte do toureiro. Defensores dos animais e críticos de touradas dispararam comentários ferinos pelas redes sociais, comemorando a morte do matador, sem qualquer compaixão pela dor da família e dos amigos do morto.
Quando souberam que a vaca Lorenza (a mãe do touro) também estava ameaçada, desencadearam uma campanha internacional para salvá-la. Em resposta, os apreciadores de corridas de touros reagiram com igual ferocidade, amaldiçoando os críticos e até mesmo contratando criminalistas para identificar e processar os autores dos comentários mais contundentes.
E estamos no terceiro milênio, na era da comunicação instantânea, com uma sonda espacial chegando a Júpiter para comprovar a extraordinária evolução do ser humano. Será o mesmo homem esse que dedica a vida à ciência para descortinar novos mundos e se diverte enfiando uma espada no coração de um animal cansado e ferido? São seus irmãos de sangue esses que vibram com seu infortúnio e sua morte brutal?
Fico desconcertado com tudo isso, mas tenho lado nesse muro: sou radicalmente contra touradas e qualquer outro espetáculo que imponha sofrimento aos animais. Por mais que argumentem com a tradição, com o turismo, com os múltiplos empregos proporcionados pela atividade, continuo achando inacreditável que o mundo civilizado aceite tamanha barbárie.
Mas não contem comigo para celebrar a morte de um ser humano. Nunca.
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