18 de julho de 2016 | N° 18584
CÍNTIA MOSCOVICH
VADE RETRO
Essa senhora aqui da rua anunciou que tinha cansado de ser toda direitinha. Que a honestidade só tinha feito com que a passassem para trás e que a decência tinha significado nada mais do que o atestado de abobada. A senhora, que foi um riponga nos anos de juventude e que ainda mantinha um certo jeito rebelde nos cabelos e na roupa, jogou fora todas as batas indianas e colares de contas. Cortou o cabelo num chanel com todos os fios acajus no lugar, trocou os óculos de aro furta-cor por um par ovalado, colocou brincos de bolinha, providências que lhe conferiram um ar antiquado, como se ela fosse digna e decente.
A tal senhora mandou a justiça às favas, passou a chamar o Bolsonaro de mito e a amar mais o dinheiro do que as pessoas. Pegou cinco ou seis empréstimos de banco e não pagou alegando juros extorsivos. Botou no lixo as palavras “obrigada”, “com licença” e “por favor” e fez virar pó de traque a solidariedade e a empatia. Querendo dar uma de elegante, dentro de um delírio prepotente e uma cara de pau resistente à sem-vergonhice, começou a falar com os muitos desafetos exclusivamente através de seu advogado.
Professora aposentada, casada com um sujeito que lembra um figurante do Planeta dos macacos, endividada até os gargomilhos, fez mais uma: alugou uma casa na qual instalou um comércio qualquer. Sem alvará da prefeitura ou dos bombeiros, sem licença alguma, sem carta de habite-se ou credenciamentos necessários, o comércio da tal senhora começou a dar problemas. Foi parar na frente de um juiz de direito.
Mas, como a performance da humilde-ofendida tornou-se uma de suas especialidades, sempre arrancando sentenças emocionais dos magistrados, o juiz da vez amoleceu: ninguém a supera fazendo cara de honesta muito menos derramando chantagistas lagrimazinhas.
Entre nossa vizinhança, nós, que escolhemos fazer tudo direitinho apesar dos prejuízos, ela tem sido tudo o que se deplora. Todos torcem para que se mude para bem longe, que desinfete. E que todo o mal que ela personifica e que é responsável por esse porcaria que vive o país vá com ela.
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