sexta-feira, 22 de julho de 2016



A complicada iniciação de Karl Ove Knausgard


Uma temporada no escuro (Companhia das Letras, 496 páginas, R$ 59,90, tradução de Guilherme da Silva Braga) é o quarto volume - de um total de seis - da série autobiográfica Minha luta, do consagrado autor norueguês Karl Ove Knausgard, que hoje faz parte do star system literário mundial e esteve na última Flip, em Paraty.

Por ter rompido as amarras da ficção, pela criatividade, pelo alto grau de confessionalismo e pelo impacto de tamanho amazônico que já causou pelo mundo, com prêmios importantes e edições em vários países, Knausgard tem sido chamado de antiproust ou Marcel Proust Nórdico. Cada leitor poderá decidir como quer qualificar o escritor que nasceu em Oslo em 1968, estudou literatura na Universidade de Bergen e hoje vive em Malmo, na Suécia, com a mulher e os filhos.

Uma temporada no escuro trata da vida de Knausgard quando ele, aos 18 anos, tinha acabado de se formar e foi para uma vila de pescadores no Norte da Noruega dar aulas a adolescentes pouco mais jovens que ele. Aquele ano fora de casa era desculpa para juntar um dinheirinho, viajar e começar a se dedicar à escrita.

Quando o inverno e aquela escuridão do Ártico chegam, o escritor principiante, pressionado pelo mundo exterior, atrapalha-se com sua perda de virgindade e enfrenta as primeiras agruras de quem pretende produzir uma obra extraordinária. O fracasso da virilidade e as dificuldades sociais levam Knausgard ao consumo excessivo de álcool, e aí a escuridão exterior e interior toma conta.

O volume tem sido considerado o mais rápido e engraçado dos seis da famosa série autobiográfica de Knausgard e tem o ritmo da palavra escrita no diário do jovem Karl de 18 anos: rock n' roll. Jeffrey Eugenides, autor de As virgens suicidas, escreveu no New York Times que o espírito do livro é o grito de um garoto com uma coleção incrível de discos que sonha em se tornar escritor, redigido pelo grande escritor que ele enfim se tornou.

O alto grau de sinceridade do autor e o fato de escrever de forma totalmente aberta e direta sobre si, família, amigos e temas que outros escritores evitam, como embriaguez do pai, bullying, depressão, sentimento de fracasso, frustração e fuga da realidade que o afetaram diretamente têm causado polêmica e problemas para Karl com familiares, leitores, críticos e mídia.

Mas, por outro lado, Knausgard hoje, com suas palavras e silêncios, conquistou seu espaço e revelou, como disse, que ele é simples, mas sua literatura, não. "Tentei escrever de forma totalmente aberta: não estou mostrando nada, simplesmente é o que é, um estado mental", disse o autor em entrevista, sintetizando seu fazer literário que o coloca, ao lado da italiana Elena Ferrante e do japonês Harukio Murakami, entre alguns outros, no primeiro time da literatura internacional.

Nenhum comentário: