segunda-feira, 25 de julho de 2016


25 de julho de 2016 | N° 18590
EDITORIAIS

O VÉU DA HIPOCRISIA

Ao confessar o recebimento de recursos ilegais de campanhas presidenciais do PT, o marqueteiro João Santana disse ao juiz Sergio Moro ser preciso “rasgar o véu da hipocrisia” que envolve as disputas eleitorais no Brasil. É exatamente isso que a Operação Lava-Jato vem fazendo: caixa 2 é crime, sim, como já atestou a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). A cultura do caixa 2, que atinge, segundo o marqueteiro, 98% das campanhas eleitorais no país, tem mesmo que ser combatida, pois é o grande motor da corrupção no país.

A exemplo do marqueteiro da campanha presidencial vitoriosa de 2010, também o ex-tesoureiro Paulo César Farias, do então candidato Fernando Collor, já havia denunciado “hipocrisia” em relação ao seu caso, ainda nos anos 1990. O aspecto preo- cupante é que o problema, antigo e arraigado, pode se aprofundar neste ano, sob a forma tanto de caixa 2 quanto de caixa 1 disfarçado. É que, pela primeira vez, políticos em campanha não contarão, agora, com o dinheiro de empresas, precisando se contentar, oficialmente, com recursos do fundo partidário e de doações de pessoa física.

Em eleições anteriores, cerca de 90% das doações vinham de empresas. Seria ilusório imaginar que a simples mudança da lei, mesmo impondo rigor aos faltosos, seja suficiente para fechar essa porta para a corrupção.

A Justiça Eleitoral tem insis- tido que não dispõe de estrutura para acompanhar caso a caso os milhares de candidatos inscritos para concorrer em outubro. Mais uma vez, o eleitor é quem arcará com esse ônus: o de contribuir não apenas evitando votar em quem transgride, mas também denunciando às autoridades sempre que deparar com irregularidades.

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