02
de abril de 2015 | N° 18120
LUCIANO
ALABARSE
VOLTAGEM POLÍTICA
Somos
bombardeados diariamente com novidades sobre nossos escândalos políticos. O que
não nos falta é informação. Qualquer brasileiro, ao abrir o jornal logo cedo,
perde paciência e humor. Mas não consigo deixar de ler. Política faz parte da
minha cesta básica. Que se punam infratores e culpados. Mas não endosso o coro
a favor da criminalização generalizada do setor. Como diretor teatral, foi o
teatro político que sempre me interessou.
Mas,
afinal, o que é “teatro político”? Certamente não o que trata conteúdos
humanistas como panfletos dogmáticos, mas sim o que cria pontes entre tradição
e vanguarda, passado e presente, o velho e o novo. Lukács afirma que “o que é verdadeiramente
revolucionário na arte é a forma”. Joni Mitchell, envelhecida e ainda muito
bonita aos 71 anos, ao posar para a campanha da grife Saint Laurent Paris subverte
padrões e protagoniza um fato político mais eficaz do que qualquer uma de
nossas propagandas partidárias. Textos que unem densos conteúdos a estéticas
inovadoras ainda me motivam, 40 anos depois do meu primeiro espetáculo. O “onde
queres revólver sou coqueiro” caetânico sintetiza essa postura à perfeição.
Mergulhado
na maratona dos ensaios de Crime Woyzeck, durmo pouco e estudo muito. A peça
nova mistura dois textos antagônicos e complementares: Crime, de Peter
Asmussen, assistente do Lars von Trier, e Woyzeck, do Georg Büchner. Morto aos 23
anos, o autor deixou sua obra-prima incompleta, com cenas fora de ordem, o que
dá liberdade para encará-la como um mosaico de cenas violentamente atuais. A
voltagem política dos dois textos entrelaçados é evidente.
Estou
aproveitando para ler importantes teóricos da cena contemporânea, como Hans-Thies
Lehmann e Tércio Redondo. Lehmann, em Escritura Política no Texto Teatral,
elogia Walter Benjamin e sua tese de que é terrível que artistas usem a política
para criar futilidades desimportantes. Banalidade e teatro são incompatíveis. Quem
disse isso foi o Walter Benjamin.
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