28
de abril de 2015 | N° 18146
DAVID
COIMBRA
Os ricos malvados
Bresser-Pereira
disse em entrevista a Zero Hora que os ricos nunca gostaram da democracia e a
temem. Preocupante. Porque, afinal, quem são os ricos?
Respondo:
os ricos são pobres, só que com dinheiro. Pegue um pobre, abra uma conta bancária
para ele e encha-a de reais. Pronto, ele virou rico.
Por
exemplo, o Lulinha, filho do Lula, até o pai chegar à Presidência, era monitor
de zoológico e ganhava R$ 600 por mês. Agora ele é empresário bem-sucedido e
mora num apartamento que vale R$ 6 milhões. Ou seja: Lulinha era pobre e se
tornou rico.
A
premissa contrária também é verdadeira, e há vários casos que o demonstram. O
mais recente e mais notório é o de Eike Batista, que chegou a ser o oitavo
nababo do mundo e hoje se repoltreia no pântano infecto da classe média.
Então,
está claro que ninguém nasce com o gene da riqueza, que seria uma espécie de
inimigo do gene da democracia. Em tese, qualquer um pode ser rico, até o
Bresser-Pereira. E aí pulsa e freme a questão: por que uma pessoa, uma vez
enricada, começa a odiar e temer a democracia?
Sei
qual é o raciocínio do Bresser-Pereira. É o raciocínio do brasileiro em geral: a
democracia dá direitos iguais a todos. Logo, o regime democrático diminuiria os
privilégios dos ricos. Mas os ricos, obviamente, não querem perder esses privilégios,
sobretudo porque sua riqueza é baseada neles. Em resumo, os ricos são ricos
porque exploram os pobres. Os ricos são opressores; os pobres, vítimas da
opressão. Assim, ricos e pobres são inimigos, são classes em luta eterna,
irreconciliáveis por natureza.
Por
isso, ganhar dinheiro, no Brasil, é uma vergonha. Se alguém tem dinheiro,
provavelmente o roubou. Fazer sucesso é suspeito. Se alguém faz sucesso é porque
se vendeu aos ricos.
Já ser
pobre pode ser ruim, mas é lindo. Pena que os pobres brasileiros, não lhes
bastando a pobreza material, sejam também pobres de espírito. Eles não gostam
da Rede Globo porque a qualidade dos programas é ótima, nem do McDonald’s
porque o Big Mac é um bom sanduíche, nem da Coca-Cola porque o refrigerante é saboroso,
nem do Roberto Carlos porque ele canta bem. Não. Todos esses casos vitoriosos
na verdade enganam os pobres. Eles usam de fórmulas malignas que iludem
facilmente os coitadinhos, que passam a apreciar coisas horríveis e detestar
coisas maravilhosas, como as músicas da Mercedes Sosa, os filmes do Godard e os
livros da Virginia Woolf. Que fórmulas são essas? Aí está algo que só os ricos
sabem. Há apenas uma maneira de você descobrir: pergunte ao Lulinha.
NOBEL
DA PAZ
Não
assisti ao Gre-Nal. Pelo menos não a todo. Estava em Nova York, vendo os ricos
gastando em dólar. Mas tenho algo a dizer a respeito: essa torcida mista é uma
das iniciativas mais inteligentes, sensatas e nobres da história do futebol
mundial. Não é exagero. Os dirigentes que a tornaram possível merecem loas e
aplausos. Os nomes! Quero os nomes desses gremistas e colorados da paz.
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