sábado, 18 de abril de 2015


19 de abril de 2015 | N° 18137
MOISÉS MENDES

O vídeo-zumbi

Pedro Barusco, o ladrão avulso, cumpre prisão domiciliar num apartamento no Rio ou numa casa em condomínio de luxo em Angra dos Reis. Corruptos confessos como ele, que guardava US$ 97 milhões na Suíça, têm o privilégio de domicílios diversos.

Barusco, na verdade, está solto. Paulo Roberto Costa, o outro ladrão confesso, também. O doleiro Youssef, o grande dedo-duro dos roubos na Petrobras, delatou meio mundo nos anos 90, no caso Banestado (de remessa ilegal de dólares para o Exterior), e também foi premiado na época com a liberdade.

Mas Youssef está preso de novo porque voltou a agir e comandou as operações de leva e traz de dinheiro da Petrobras. Operava para todo mundo. Uma das revelações de Youssef está num vídeo que circula há dois meses na internet, mas é anterior à Lava-Jato.

No vídeo, ele é interrogado por um procurador, no final do ano passado. Diz que ficou sabendo, pelo deputado paranaense José Janene (PP), que o então deputado mineiro Aécio Neves (PSDB) recebia propina de uma empresa que prestava serviços à Furnas, subsidiária do setor elétrico do sistema Eletrobras.

Janene, sócio e compadre de Youssef, seria ligado a Aécio e era o intermediador. O pagamento mensal de US$ 100 mil a US$ 120 mil, entre 1996 e 2001, saía da firma Bauruense.

O dinheiro, disse Janene ao compadre, ia para uma irmã de Aécio Neves. Mas Aécio tem duas irmãs. E Janene, quadrilheiro do mensalão, com atuação multipartidária, morreu em 2010. No vídeo, o procurador interrogador diz que vai mostrar uma foto de Andréa Neves. Youssef afirma que não tem como reconhecê-la, porque nunca a viu.

Um sócio da Bauruense, segundo o doleiro, queixava-se a Janene das mordidas do PSDB, como o próprio Youssef testemunhava. O vídeo que corre pela internet tem quase 14 minutos de duração (procure por youssef furnas no YouTube) e mostra um interrogatório conduzido com frouxidão.

Por decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Aécio ficou de fora da lista de políticos enviada ao Supremo com o pedido de licença para abertura de inquérito. Disse Janot que os episódios do caso Petrobras e do caso de Furnas “são fatos completamente diversos e dissociados entre si”.

O único tucano da lista de Janot, agora sob investigação, é o ex-governador e atual senador mineiro Antonio Anastasia. A suspeita: um policial federal diz ter entregue um pacote com R$ 1 milhão a Anastasia, na campanha ao governo do Estado, em 2010, por ordem de Youssef.

Alguém com conhecimento de meia dúzia de leis livra Anastasia dessa enrascada. O policial não conhecia Anastasia (que teria sido reconhecido depois por uma foto), e Youssef nega que tenha mandado o dinheiro.

O que intriga é o caso Furnas. Essa história tem toda pinta de que vai virar lenda, como o mensalão tucano. Sobrará apenas esse vídeo-zumbi, que eu, você e a torcida do Flamengo recebemos toda semana.

É de se perguntar, então: as pistas do doleiro não serviram para coisa alguma porque os casos são desconexos? O MP e a Justiça não conseguem avançar além do que lhes é oferecido de mão beijada pelos delatores?


E Barusco será mesmo apenas um ladrão avulso que começou a roubar na Petrobras durante o governo do PSDB e acumulou US$ 97 milhões? Ou é o grande laranja (de quem?) ainda encoberto na feira da Petrobras? São muitas perguntas associadas entre si para que fiquem sem resposta – e que talvez por isso mesmo acabem ficando.

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