19
de abril de 2015 | N° 18137
MOISÉS
MENDES
O vídeo-zumbi
Pedro
Barusco, o ladrão avulso, cumpre prisão domiciliar num apartamento no Rio ou
numa casa em condomínio de luxo em Angra dos Reis. Corruptos confessos como
ele, que guardava US$ 97 milhões na Suíça, têm o privilégio de domicílios
diversos.
Barusco,
na verdade, está solto. Paulo Roberto Costa, o outro ladrão confesso, também. O
doleiro Youssef, o grande dedo-duro dos roubos na Petrobras, delatou meio mundo
nos anos 90, no caso Banestado (de remessa ilegal de dólares para o Exterior),
e também foi premiado na época com a liberdade.
Mas
Youssef está preso de novo porque voltou a agir e comandou as operações de leva
e traz de dinheiro da Petrobras. Operava para todo mundo. Uma das revelações de
Youssef está num vídeo que circula há dois meses na internet, mas é anterior à Lava-Jato.
No vídeo,
ele é interrogado por um procurador, no final do ano passado. Diz que ficou
sabendo, pelo deputado paranaense José Janene (PP), que o então deputado
mineiro Aécio Neves (PSDB) recebia propina de uma empresa que prestava serviços
à Furnas, subsidiária do setor elétrico do sistema Eletrobras.
Janene,
sócio e compadre de Youssef, seria ligado a Aécio e era o intermediador. O
pagamento mensal de US$ 100 mil a US$ 120 mil, entre 1996 e 2001, saía da firma
Bauruense.
O
dinheiro, disse Janene ao compadre, ia para uma irmã de Aécio Neves. Mas Aécio
tem duas irmãs. E Janene, quadrilheiro do mensalão, com atuação multipartidária,
morreu em 2010. No vídeo, o procurador interrogador diz que vai mostrar uma
foto de Andréa Neves. Youssef afirma que não tem como reconhecê-la, porque
nunca a viu.
Um sócio
da Bauruense, segundo o doleiro, queixava-se a Janene das mordidas do PSDB,
como o próprio Youssef testemunhava. O vídeo que corre pela internet tem quase 14
minutos de duração (procure por youssef furnas no YouTube) e mostra um
interrogatório conduzido com frouxidão.
Por
decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Aécio ficou de fora da
lista de políticos enviada ao Supremo com o pedido de licença para abertura de
inquérito. Disse Janot que os episódios do caso Petrobras e do caso de Furnas “são
fatos completamente diversos e dissociados entre si”.
O único
tucano da lista de Janot, agora sob investigação, é o ex-governador e atual
senador mineiro Antonio Anastasia. A suspeita: um policial federal diz ter
entregue um pacote com R$ 1 milhão a Anastasia, na campanha ao governo do
Estado, em 2010, por ordem de Youssef.
Alguém
com conhecimento de meia dúzia de leis livra Anastasia dessa enrascada. O
policial não conhecia Anastasia (que teria sido reconhecido depois por uma foto),
e Youssef nega que tenha mandado o dinheiro.
O
que intriga é o caso Furnas. Essa história tem toda pinta de que vai virar
lenda, como o mensalão tucano. Sobrará apenas esse vídeo-zumbi, que eu, você e
a torcida do Flamengo recebemos toda semana.
É de
se perguntar, então: as pistas do doleiro não serviram para coisa alguma porque
os casos são desconexos? O MP e a Justiça não conseguem avançar além do que
lhes é oferecido de mão beijada pelos delatores?
E
Barusco será mesmo apenas um ladrão avulso que começou a roubar na Petrobras
durante o governo do PSDB e acumulou US$ 97 milhões? Ou é o grande laranja (de
quem?) ainda encoberto na feira da Petrobras? São muitas perguntas associadas
entre si para que fiquem sem resposta – e que talvez por isso mesmo acabem
ficando.
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