Jaime
Cimenti
Abril, as utopias, o
choro
Poetas
com suas antenas sensíveis têm razão: abril é o mais cruel dos meses, disse
T.S. Eliot. Este abril terminando nos levou Eduardo Galeano, a voz doce, livre,
solta, dos que não tem voz ou que não podem falar; e Günter Grass, a
consciência crítica, a voz criativa e incômoda da Alemanha, que mesclou vida,
arte, política e criatividade como ninguém.
Passam
as comparações, algumas circunstâncias, episódios, normal. Ficam as histórias,
o talento literário, os julgamentos do tempo e dos leitores, as utopias e as
estrelas, É o que segue interessando mais. Faz tempo que é assim. Faz milênios
que deitamos, dormimos as horas necessárias, sonhamos, acordamos e buscamos o
novo nas manhãs.
Escrevo
nesse vinte e um de abril. No Face, os amigos postam churrascos, risotos,
saladas, corpos sarados, cachorros, gatos, galetos, sorrisos, doces,
salgadinhos, cervejas, vinhos, café colonial, netos, sobrinhos, noivos, filhos,
namoradas, pais, avós, irmãos, casas, piadas, viagens, soldadinhos de chumbo,
crônicas, livros, poemas, utopias e distopias, notícias boas e ruins. Me
alertam que leite condensado, chocolate e nutela são drogas que podem ser a
porta de entrada para mais pesadas...
Sei,
sei... Calma, devagar, menos... Bom, no Face, tem mais sorrisos que depressão,
mais vida que morte, melhor. Facedependentes... Facemaníacos... No Face, juntos
e solitários. Nem a frieza eletrônica do meio esfria a latinidade e contém as
emoções e lágrimas. Graças a Deus. Beleza. Me adicionem. Estou carente. Só
tenho 1565 amigos.
Nesse
21 de Tiradentes, herói enlouquecido de Liberdade, peço a Deus que essa luz
dicróica pousando ilumine minhas poucas e precárias ideias e as ideias
certamente em maior número e mais claras de meus compatriotas, para que a gente
se dê conta de que somos todos atores neste espetáculo. O palco é de todos, o
País é de todos. Sonho o País como uma grande orquestra. Pena que o Tom Jobim
não está aí para ser o Maestro. Num momento difícil, precisamos conversar, nos
entender, promover mudanças políticas, financeiras, fiscais etc.
Acho
que, nesta hora complicadíssima para todos nós, seria interessante, mesmo
virtualmente, dar um pulo na Sala das Lágrimas, ao lado da Capela Sistina, no
Vaticano. Naquele pequeno espaço, sozinho, o Papa recém-eleito chora de emoção
pela escolha, pela tensão e pelo peso da responsabilidade. Depois, escolhe uma
entre as três vestimentas, feitas pela histórica alfaitaria Gammarelli. Depois
das meias, usa um dos sete pares de sapato, algum adorno e aí reza, dá as
bênçãos, vai adiante.
Lágrimas,
uma das coisas mais humanas, se não a mais. Palavras de água e sal que nem se
sabe bem quais são, mas que se precisa deixar rolar, mesmo no silêncio e na
solidão, para não se tornar louco de pedra ou coisa assim. Choro pelos que
choram e pelos que já não choram. Pelos que têm os olhos já tornados secos
pelas moendas do tempo ou pelas dores que já levaram todas as lágrimas.
a
propósito...
Em
1970, o Rei Pelé, pouco antes da histórica final da Copa do Mundo, que nos deu
o Tri, em Guadalajara, revelou que teve uma forte crise de choro, no ônibus,
indo para o estádio. Ele estava no ápice, conseguiu relaxar. Tocamos os quatro
a um na Itália e levamos o caneco, numa das partidas mais bonitas de copas. Em
entrevista na ZH de 19.04.2015, Paulo César Tinga, grande pessoa e jogador,
agora aposentado, completamente sozinho no Japão, em 1999, disse que aprendeu
muito com o choro.
Pois
é, o choro é livre. Título, aliás, do lindo e primeiro LP do nosso genial
flautista Plauto Cruz, que aparece na capa dele com uma grande, belíssima lágrima.
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