JADER
MARQUES*
INTELIGÊNCIA POLICIAL
Pesados
investimentos na melhoria das condições de vida da população, embora possam ter
impacto considerável na redução da violência e criminalidade, não afastam a
importância de uma profunda discussão sobre o modelo policial adequado para o
país. Durante anos, a questão policial vem sendo negligenciada, conforme afirma
o antropólogo Luiz Eduardo Soares, especialista na matéria.
O
Brasil, em poucas décadas, passou à condição de potência econômica, avançou no
cenário político internacional e vem experimentando transformações importantes
na distribuição interna da renda, dentre tantas outras mudanças. Nesse
contexto, é de se perguntar por qual motivo ainda temos o modelo de polícia da época
do regime militar. Um país que passa por tantas mudanças não consegue superar o
ranço violento, repressivo e letal de um modelo policial ultrapassado.
Uma
pesquisa desenvolvida pelo já citado Luiz Eduardo Soares, em parceria com
Marcos Rolim e Silvia Ramos (“O que pensam os profissionais da segurança no
Brasil?”, disponível no site do MJ), mostrou que 70% dos 64.120 policiais e
demais profissionais da segurança pública ouvidos estão insatisfeitos com o
modelo de polícia vigente. Nem mesmo a polícia quer a polícia existente.
É nosso
dever, urgente, buscar uma polícia que não seja um grupo de extermínio de
jovens negros e pobres. Que não seja a polícia apenas das prisões de usuários
de drogas e praticantes de pequenos furtos famélicos. Que não seja a polícia
que tortura e mata.
Por
tudo isso, torna-se fundamental discutir com seriedade a Proposta de Emenda
Constitucional nº 51, que propõe, dentre tantas mudanças necessárias: a
desmilitarização, a carreira única, a polícia de ciclo completo, as polícias
estaduais e municipais, o controle externo com participação da sociedade, os
direitos trabalhistas aos profissionais da segurança.
Chega
de polícia que prende vagabundo. Queremos uma polícia bem equipada, bem paga e
que possa trabalhar com inteligência. A polícia inteligente das complexas operações
que desbaratam as quadrilhas, as quais, verdadeiramente, causam os mais graves
prejuízos para o país.
*Advogado
criminalista
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