13
de abril de 2015 | N° 18131
DAVID
COIMBRA
As manifestações e a mudança
Dilma
é honesta. É abúlica, mas é honesta. Tem dificuldade em formular uma sentença lógica,
com sujeito, verbo e complemento, mas é honesta.
O
Brasil sabe disso. Sabe que Dilma não será apanhada em nenhuma investigação de
corrupção e, sabendo disso, sabe que o impeachment não é factível.
Por
essa razão, até me surpreenderam as manifestações contra o governo, ontem, pelo
país. Foram maiores do que imaginava. As pessoas estão desanimadas, e achei que
não teriam motivação para gritar por algo que elas sabem que não vão conseguir.
O
desânimo ocorre porque, intuitivamente, o brasileiro compreende o que está acontecendo
e como as coisas se dão no país. O brasileiro sabe que Dilma tinha conhecimento
do que se passava no governo, mas que não participava de nada de errado, e que
tudo o que a envolvia era muito maior do que ela.
Lembro
sempre do emblemático caso da reforma do estádio do Inter. A empreiteira não
queria fazer a obra, Dilma pressionou e a empreiteira voltou atrás – assinou o
contrato com o clube. O Rio Grande se levantou como se fosse um único homem,
aplaudindo a presidente pela intervenção (eram outros tempos). Perguntei na época
e pergunto de novo: que poder tem um presidente da República para obrigar uma
empresa a fazer uma obra que não quer fazer? Obviamente, a empresa teve medo de
ser prejudicada. Obviamente, se ela pode ser prejudicada, pode ser beneficiada.
O
caso do Beira-Rio é a demonstração escancarada da relação promíscua que existe (ou
existia) entre governo e empreiteiras. Em tempo, antes que os colorados fiquem
indignados: o Inter não teve nada a ver com isso. As coisas, simplesmente, eram
assim.
Então,
é evidente que Dilma tinha ciência de como funcionava esse sistema, mas não foi
ela quem o inventou. O sistema existia antes dela e, para transformá-lo, seria
preciso abnegação e força de vontade em doses que Dilma não tem. As regras eram
essas. Dilma jogou o jogo. Agora, o jogo mudou.
Porém,
o fato de o jogo ter mudado a despeito da vontade de quem eventualmente ocupa a
Presidência é a melhor notícia para o Brasil. Porque é uma mudança feita dentro
do sistema, que não depende das pessoas. É o mecanismo que está sofrendo
transformação.
Dilma,
com ou sem abulia, terá de se comportar conforme as novas regras, nos três anos
e meio de mandato que lhe restam. E os presidentes que sucederem a ela também. O
Brasil não é mais como era um ano atrás. Isso é bom. Mesmo quem está desanimado
pode comemorar.
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