RUTH
DE AQUINO
10/04/2015
20h45 - Atualizado em 10/04/2015 20h51
Deu a louca nas contas de
luz
Não
adianta sair apagando as luzes e tropeçar na escuridão, na vã esperança de
economizar energia
A
bandeira vermelha anda fazendo estragos por onde passa. Foi fincada em nossas
contas de luz – e o consumidor berra como pode nas redes sociais contra algo
que escapa a sua compreensão. A cor vermelha da bandeira significa “perigo”: um
adicional pelo uso da energia das termelétricas.
Ao
receber uma conta até três vezes mais alta, é esquisito ler que o reajuste
médio da tarifa de energia elétrica foi de 39%. E só neste ano de 2015. Porque
a realidade é muito pior – e também envolve a inépcia, a omissão e o mau
funcionamento de operadoras, leituristas e medidores. Além de falta de
transparência no atendimento.
Não
adianta sair apagando as luzes e ir tropeçando na escuridão, na vã esperança de
ser premiado por economizar e viver na penumbra. A conta é um choque maior a
cada mês. O Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) subiu 1,32% em março, o pior
resultado em 20 anos. O vilão maior? A tarifa de luz, que só no mês passado
subiu 22,08%.
Somos
vítimas da incompetência de anos desse governo na administração das contas
públicas. Somos punidos pela conveniente cegueira do PT em ano eleitoral, ao
ignorar a crise da água. Prefeitos podem processar a presidente Dilma quando
ela tenta “renegociar”, eufemismo para “arrecadar mais e cobrir o rombo
federal”. Prefeitos têm a caneta na mão e não querem pagar pela irresponsabilidade
fiscal da equipe de Dilma no primeiro mandato, que maquiou cifras e
contabilidades. Nós, consumidores, só podemos entubar.
Alguns
economistas tentam acalmar os ânimos dizendo que o governo concentrou seu
pacote de maldades agora para aliviar depois. “É aquela ideia do Maquiavel de
que maldade se faz toda de uma vez”, disse ao jornal O Globo Luís Otávio Leal,
economista-chefe do Banco ABC Brasil.
Mas
já está claro que voltamos a viver no mundo assombrado das estatísticas
mirabolantes. Ler na imprensa que a inflação anual está em 8,13% e que o custo
com alimentação em março subiu 1,17% é um convite irresistível para as donas de
casa brasileiras saírem em gigantesco panelaço contra a dona da casa do
Planalto.
Quem
vai ao supermercado semanalmente sabe que o custo com comida subiu muito mais.
No mercado, ainda dá para substituir produtos. Mas, na hora em que a tarifa da
energia elétrica chega, dá até medo abrir e verificar consumo e valores. Se não
pagarmos, a luz será cortada. Simples assim.
O
círculo é vicioso e viciado. Não há como fazer caber no orçamento doméstico os
aumentos súbitos e escorchantes como os das tarifas públicas, transporte,
educação, saúde e alimentos. O desemprego sobe.
As
distribuidoras de energia estão se prevenindo contra a inadimplência desde já.
Se você pensa que sua conta de luz já chegou ao limite máximo, prepare-se. A
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estuda como repassar o “calote” do
vizinho para você. Assim, vamos pagar mais ainda por quem não pode arcar com os
aumentos.
O
consumidor também precisa estar atento para erros absurdos em suas contas. Por
causa de medidores defeituosos, falhas em leituras ou motivos não revelados. No
Rio de Janeiro, reuni alguns exemplos de queixas consideradas procedentes e improcedentes
pela Light.
A
atriz Guida Vianna reproduziu suas contas nas redes sociais. Em janeiro, R$
237,41. Em fevereiro, R$ 333,13. Em março, R$ 960,20. “É possível?”, perguntou.
A Light admitiu, em carta, que o valor identificado para devolução era de R$
660,19 e seria descontado nas próximas contas. “Sinceramente”, disse Guida,
“acho que o que valeu foi botar a boca no Facebook.” Não foi explicada a origem
do erro.
Outra
atriz, Dani Antunes, não obteve a mesma atenção da Light. Sem ar, sem TV, sem
ferro de passar, com chuveiro elétrico queimado, num apartamento pequeno de
dois quartos no Morro do Vidigal, Zona Sul da cidade, viu seu consumo médio de
luz, de 70 kWh, saltar para 150 kWh, depois para 220 kWh e, enfim, 621 kWh.
Mandou e-mail para a Ouvidoria, a Light prometeu verificar, mas não enviou
ninguém. Em carta, disse que a reclamação era “improcedente” e que, se ela não
pagasse a conta, a luz seria cortada e o nome da proprietária iria parar no
SPC. Abuso? “A Light sempre aumenta aleatoriamente meu consumo no verão, mesmo
que eu passe o verão fora da cidade, com
apartamento fechado”, disse Dani.
Fiz
várias perguntas específicas à Light por e-mail. Perguntei quantas reclamações
desse tipo a Light recebeu nos três primeiros meses por ano, quantas foram
consideradas procedentes e quantos clientes foram ressarcidos. Perguntei qual
foi o valor total cobrado a mais erradamente nesse período. E quais são os
principais motivos de erro nas contas. Recebi uma resposta protocolar, me
remetendo ao site da Aneel. Descaso? No Brasil, ficamos no escuro.
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