30
de abril de 2015 | N° 18148
L.
F. VERISSIMO
Etimológicas
“Corrupção”
vem do latim “rumpere”, ou romper, quebrar.
“Corrumpere”
quer dizer quebrar completamente, inclusive moralmente, o que significa que
quem foi corrompido não tem conserto. O mais inquietante é que da mesma origem
latina vem a palavra “rota”, através de “ruptura”, que virou “rupta” no latim
vulgar, um caminho aberto ou batido, e que está na origem do francês “route”,
de “rota” e de “rotina”. Quer dizer, há poucas esperanças da corrupção deixar
de ser uma rotina no Brasil. Até a etimologia está contra nós.
“Escândalo”
está indiretamente ligado aos pés. Sua raiz indo-europeia é “skand”, pular ou
subir, de onde também vem escalada. Quem pula ou sobe precisa cuidar onde põe
os pés, e o grego “skandalon” significa um obstáculo ou uma armadilha.
“Scandalum”, em latim, tanto pode significar tentação como armadilha. No
francês antigo, “scandal” era um comportamento antirreligioso que agredia a
Igreja todo-poderosa, e, da mesma origem, existia a palavra “sclaudre”, de onde
vem o inglês “slander”, ou difamação. Portanto, antes de acusar, pense em onde
vai botar os pés.
Alguns
escândalos, de tão não investigados, acabam virando anedotas. “Anedota” vem,
através do francês “anecdote”, do grego “anekdotos”, história não publicada,
presumivelmente tanto no sentido de inédita quanto no sentido de versão não
oficial, secreta, clandestina. Enfim, história do tipo que em Brasília todo
mundo sabe mas a gente não fica sabendo. Em francês queria dizer pequeno relato
ilustrativo à margem de um relato maior.
No
seu sentido brasileiro, continua sendo uma história marginal, só que engraçada,
ou se esforçando para ser. Sobrevive, na anedota, a tradição homérica da
literatura oral, passada de geração a geração sem necessidade de escrita. Se
for escrita, deixa de ser anedota.
Muitos
contadores anotam o fim da anedota para não esquecê-la, mas se sentiriam
heréticos se a escrevessem toda, apesar do risco que correm de esquecerem o
resto e ficarem com uma coleção de últimas frases sem sentido. Tipo:
“E
aí o marido vingativo gritou para a mulher dentro da jaula do gorila: ‘Diz para
ele que você está com dor de cabeça, diz!’”.
“E
aí o cara só de cuecas no meio de um bolo de gente disse ‘E eu, que só vim
entregar uma pizza?’”.
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