sábado, 18 de abril de 2015


18 de abril de 2015 | N° 18136
DAVID COIMBRA

Café da manhã

Tem uma coisa que eles falam aqui. Uma expressão. “Bring home the bacon.” A tradução literal seria “trazer o bacon para casa”. Quando um americano diz isso a respeito de si mesmo, está dizendo que ele é o arrimo da família. É ele quem sustenta o lar.

Para você ver como o bacon é um alimento importante para os americanos. Eles adoram bacon frito, servido em fatias bem finas, da espessura de uma capa de caderno de espiral. Estava dizendo isso na aula, outro dia, e os demais estrangeiros concordaram comigo, e todos nos espantamos de os americanos comerem bacon no café da manhã, e alguém, acho que a italiana, me perguntou como é o café da manhã no Brasil.

Sorri. O café da manhã no Brasil. Não pensem naquele café da manhã de hotel, disse-lhes. Não, não pensem em mamão, suco de laranja, cereais e bolos, não pensem em ovos duros, cozidos por dois minutos e meio, ou mexidos, temperados com salsinha. Não pensem nem na popular dupla queijo & presunto. Nada disso.

O café da manhã clássico do Brasil é simples, mas precioso. Consiste em uma xícara cheia com três quartos de leite e um quarto de café, acompanhada por uma fatia de pão com dois dedos de altura e um palmo de comprimento, com a superfície coberta por uma camada delicada de manteiga sem sal. A manteiga tem de estar em processo de derretimento devido ao calor do pão recém-saído do forno, e o café há de ser adoçado por duas colheradas de açúcar tirado de um açucareiro de louça branca.

Você pode tomar esse café lendo o jornal do dia, mas o ideal é deixar o jornal de lado, dobrado em forma de canudo, num canto da mesa, para que você possa conversar com as pessoas que ama, que estão com as caras ainda perplexas pelo sono há pouco quebrado. A conversa será amena, porque a manhã ainda tem o frescor da juventude e o ar é fino e talvez algum passarinho cante pela vizinhança.

Se o rádio estiver ligado, que não noticie nada de grave. O importante, nessa hora, é saber se você deve levar o guarda-chuva ao sair de casa, não muito mais do que isso.

Esse café da manhã pode ser tomado na cozinha quente de um apartamento no Centro, na sala de jantar de uma casa de subúrbio ou, quem sabe, num bangalô de praia, com o mar bem diante de seus olhos, e o seu ouvido relaxando ao rumorejar das ondas e às risadas leves dos bons amigos em torno à mesa. Você morderá o pão e beberá um gole do café e suspirará, sorrindo, porque tudo está bem.


Este é o café da manhã clássico do Brasil, contei para meus colegas estrangeiros, e eles sorriram para mim.

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