segunda-feira, 13 de abril de 2015


13 de abril de 2015 | N° 18131
MOISÉS MENDES

Compulsão antipetista

A blitz da Balada Segura flagrou Maria do Rosário sem os documentos do carro, na madrugada de sábado. A deputada passou no teste do bafômetro, admitiu que o carro deveria ser recolhido, como manda a lei, e voltou para casa de carona.

Ninguém foi mais malhado na internet no fim de semana do que Maria do Rosário. Ela já é alvo do Bolsonaro, dos homofóbicos, dos que defendem prisão perpétua para adolescentes infratores e dos adoradores da ditadura. Agora, imagine, andava sem os documentos do carro! É o fim do mundo.

Nenhum homem do PT leva tanta bordoada. O antipetismo pode ser obsessivo. Contra Maria, é um vício aprimorado pelas deformações do machismo.

Há antipetistas compulsivos. Não fazem quase mais nada desde as eleições para serem antipetistas em tempo integral. Você conhece uma dessas figuras que abandonaram tudo e, sem outra alternativa, entregaram-se à dependência do antipetismo.

Alguns já tentaram largar, agarraram-se a promessas, como as surgidas em outubro, mas fracassaram. Sucumbem às recaídas, porque a sina é ser antipetista. E dá-lhe malhação na Maria do Rosário.

O PT tornou-se vulnerável muito antes do mensalão. Em 2004, eu saí na Grande Porto Alegre atrás de uma raridade para uma reportagem: alguém que ainda tivesse uma bandeira do partido no pátio da casa, como nos bons tempos. Achei só um morador de Gravataí. O governo já estava nos braços da direita. Os militantes se sentiam traídos pelas alianças oportunistas.

Mas o lulismo ocupou o lugar do petismo, prosperou entre os pobres e salvou o PT, apesar da gangue do mensalão e de outros desatinos cometidos em nome da governabilidade. Com 12 anos de poder, porção expressiva do partido senta-se ao lado da rafuagem da política.

Mas, para parte da oposição, como não há alternativa confiável, depois de três fracassos sucessivos dos tucanos, a saída é ser apenas antipetista. O antipetismo repetitivo é a ladainha mais chata do Brasil. Parentes, colegas, amigos, vizinhos não aguentam mais. Nem os lacerdistas eram tão chatos.


A toada antipetista na internet é o sertanejo universitário da política. Se o PT já se extinguiu, como dizem, por que então ser tão bravamente antipetista? É triste reduzir a vida ao antipetismo. Dá saudade dos antigos anticomunistas.

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