14
de abril de 2015 | N° 18132
DAVID
COIMBRA
O melhor que foi feito foi o
pior
Quando
você faz coisas aparentemente boas, não significa que seguramente esteja
fazendo coisas certas.
Penso
isso amiúde, em relação à criação do meu filho. Estou sendo duro demais? Frouxo
demais? Exigente demais? Tolerante demais?
É complexo.
A
coisa certa. A coisa boa. É muito mais fácil fazer a coisa boa. Qual foi a
melhor coisa que o governo do PT fez, nesses anos todos? Certamente, foi a
facilitação do acesso à educação de nível superior. Isso foi uma coisa boa para
muita gente.
Mas
não foi a coisa certa.
Um
projeto sério de educação no Brasil teria de priorizar a educação básica, os
velhos primeiro e segundo graus. Alguém dirá que essa tarefa é dos Estados. Não.
Não é. Essa é tarefa para todos os brasileiros, para quem pretende planejar
estruturalmente o país, de baixo para cima, de dentro para fora.
Sempre
estudei em escolas públicas. Nunca fiz cursinho. Quando cheguei ao vestibular,
sentia-me em condições de disputar vaga com quem pagava escola particular e
cursos caríssimos. Natural: havia várias escolas públicas excelentes no Rio
Grande do Sul.
Com
boas escolas públicas, o país não precisa de cotas, porque negros e pobres terão
as mesmas chances que brancos e ricos. Com boas escolas públicas, o acesso à educação
superior não precisa ser “facilitado”. Boas escolas públicas afastam as crianças
da marginalidade e das drogas, e assim ajudam a melhorar a saúde e a segurança.
Com boas escolas públicas, a discussão sobre a maioridade penal se torna supérflua
até para a Bancada da Bala.
Todos
os países que funcionam no mundo, todos, absolutamente todos, sem nenhuma exceção,
estão baseados num sistema eficiente de escolas públicas.
O
governo do PT fez uma coisa boa, mas errada. O governo errou ao canalizar
energias e recursos para a educação superior. A melhor coisa do governo do PT
foi uma das piores para o país, porque atrasou o Brasil em pelo menos uma geração.
Nesse
tempo todo, com um governo inflado de popularidade, com a economia puxada para
cima pelo crescimento chinês, nesse tempo todo o Brasil poderia ter tornado
ereta a espinha dorsal da nação, e a espinha dorsal de qualquer nação justa é a
educação das crianças.
Perdemos
tempo, miseravelmente, porque o governo optou pelo caminho mais fácil. Um
governo desenvolvimentista e populista, tanto quanto o foi o governo dos
militares. Um governo que passou 12 anos investindo para se manter no poder e
que, agora, faz o país pagar essa conta. E o pior de tudo: um governo que
patrocina uma rançosa discussão ideológica e a transforma na pauta dos debates do
país.
É uma
grande falácia. É uma manobra diversionista sórdida. Essa balela de
trabalhadores versus empresários, de pobres versus ricos, de brancos versus
negros, de esquerda versus direita, de petistas versus tucanos, essa balela
serve apenas para deixar o país patinando na mesmice, porque o Brasil necessita
de todos, ricos, pobres, brancos, negros, empresários, trabalhadores, todos.
É preciso
haver um projeto de país, e esse projeto começa e termina nas crianças. O
Brasil tem de ter um sistema, e esse sistema tem de funcionar sempre. Ponto. E
danem-se as ideologias. A partir daí, podem se revezar à vontade no poder. Sirvam-se.
Saciem a vaidade. Encham os bolsos. Esquerda, direita, centro, PT, PSDB, PMDB,
seja quem for. Não faz diferença.
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