11
de abril de 2015 | N° 18129
NÍLSON
SOUZA
PAROU, MAS
FICOU
A
bola parou para Antônio Augusto na Páscoa e todos nós, que tivemos a
oportunidade de conviver com o mais destacado plantão esportivo do rádio
gaúcho, também paramos no pretérito de nossas existências para lembrá-lo e
homenageá-lo. Totonho, como era chamado por seus colegas nas redações e nos
estúdios onde atuou, foi simplesmente o precursor do Tio Google – este mago
virtual que satisfaz instantaneamente todos os nossos desejos de informação.
Munido
de pastas repletas de anotações, era uma verdadeira enciclopédia esportiva.
Ouvintes suspendiam a respiração quando ele interrompia o também gigante do
rádio Armindo Antônio Ranzolin:
–
Tem gol!
E
logo informava onde, quando, quanto estava o jogo, quem marcara, quantas vezes,
o que significava aquele gol no contexto do futebol e tudo mais que o público
precisava saber. Era uma autoridade. Muitas vezes flagrei-o atendendo
telefonemas de desconhecidos para esclarecer dúvidas e solucionar brigas de
bar.
Quando
surgiu a Loteria Esportiva, Antônio Augusto passou a ser o oráculo dos
apostadores. Mas foi nos plantões de estúdio que ele brilhou. Fechava-se com
seus alfarrábios e ouvia umas 17 emissoras de outros Estados ao mesmo tempo,
sem perder a narração dos companheiros. Uma vez, me lembro, surpreendeu a todos
ao anunciar que a bola parou.
Quando
o locutor perguntou onde, ele brincou:
– Aí
no estádio em que você está. Acabou a preliminar, 1 a 0 para...
O
público adorava. Francisco Vitorino, que também atuou com desenvoltura no
jornalismo esportivo, me mandou um texto no dia seguinte à sua morte, lembrando
que ele operava um outro milagre do rádio precário de quatro décadas atrás.
Quando as transmissões caíam por problemas técnicos, cabia ao plantão preencher
o vazio. Então, aqueles garranchos que só ele entendia se transformavam em
preciosidades que mantinham o ouvinte colado no radinho.
Numa
época em que não existia celular nem internet, era preciso ser muito repórter
para fazer o que ele fazia. Por isso faço este registro. Não ouviremos mais sua
voz nas jornadas esportivas, mas aquela pergunta existencial ficará para sempre
nas nossas memórias:
–
Onde, Antônio Augusto?
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