terça-feira, 7 de abril de 2015


07 de abril de 2015 | N° 18125
FABRÍCIO CARPINEJAR

Um professor

A rotina gera acasos surpreendentes, nunca se tem a clareza do motivo de conhecer alguém, mas há um fio que liga as pessoas. Estão unidas por alguma verdade ou mentira. É descobrir com o tempo.

Nas últimas semanas, incrivelmente conheci quatro jovens, em diferentes situações, na faixa dos 19 aos 25 anos, bonitas, românticas, crédulas, e todas sofrendo por um amor que não deu certo.

A coincidência é que o algoz era sempre o mesmo. Um único sujeito. Não qualquer sujeito. Ele tinha sido professor das quatro jovens. Aproximava-se da aluna, entre tantas no auditório lotado, mostrava-se impressionado com o desempenho e inteligência, adicionava no Facebook, convidava para um café e usava a idolatria do quadro-negro e do microfone para seduzi-las.

Conversa boa, simpático, com preferências culturais consolidadas, mantinha casos com suas protegidas, sem que uma nunca soubesse da outra. Empilhava relacionamentos secretos em seu apartamento.

Ardorosas fãs de sua didática, sentiam-se eleitas pelo seu professor. A escolhida. Depois de um período, que variava de cinco a nove meses, ele se desligava das histórias e desaparecia. Bloqueava o nome nas redes sociais e prosseguia com sua caçada selvagem por novas presas.

Suas turmas transformaram-se num infeliz recrutamento de esposa e de amante. Ele chama para sair, experimenta, vê se gosta e serve, e, dependendo, até convida para morar junto.

Como não é bonito, suas candidatas deduziam exclusividade. Cada uma delas jurava que ninguém mais o queria e se cegavam para as ambiguidades e incoerências.

Nenhuma delas fez reclamação, denúncia, nada, pois continuam amando-o, dependentes de sua eterna aprovação. Ele mantém suas vítimas caladas pela esperança de um reatamento. Baseou sua vida inteira no ato serial de transar com alunas, quando estava casado, noivo ou namorando. Não foi uma exceção, exceção se perdoa, porém consolidou um método intermitente de conquista.

Há um problema sério de ética ao empregar a admiração da sala de aula para interesses pessoais. Não é pouca coisa. O professor não poderia se exceder no exercício de seu papel. É abusar de sua autoridade, tem uma influência psicológica que supera barreiras de idade e de geração.


Não há como dizer não a um ídolo, opor-se a um tutor. É o responsável pelo aluno, pago para cuidar, definido pela instituição de ensino a orientar e promover escolhas arrazoadas. Sua posição corresponde à de um segundo pai, e não poderia destinar seu poder para quem não é capaz de se defender. 

Significa evidente caso de assédio moral, uma desproporcional covardia. Ainda mais quando se trata de adolescentes, imaturas, com sua trajetória amorosa começando, sensualizadas pelo conhecimento, que se deslumbram pela possibilidade de estar ao lado de quem admiram e de quem era para ser um exemplo de sucesso.

Nenhum comentário: