07
de abril de 2015 | N° 18125
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Um professor
A
rotina gera acasos surpreendentes, nunca se tem a clareza do motivo de conhecer
alguém, mas há um fio que liga as pessoas. Estão unidas por alguma verdade ou
mentira. É descobrir com o tempo.
Nas últimas
semanas, incrivelmente conheci quatro jovens, em diferentes situações, na faixa
dos 19 aos 25 anos, bonitas, românticas, crédulas, e todas sofrendo por um amor
que não deu certo.
A
coincidência é que o algoz era sempre o mesmo. Um único sujeito. Não qualquer
sujeito. Ele tinha sido professor das quatro jovens. Aproximava-se da aluna,
entre tantas no auditório lotado, mostrava-se impressionado com o desempenho e
inteligência, adicionava no Facebook, convidava para um café e usava a
idolatria do quadro-negro e do microfone para seduzi-las.
Conversa
boa, simpático, com preferências culturais consolidadas, mantinha casos com
suas protegidas, sem que uma nunca soubesse da outra. Empilhava relacionamentos
secretos em seu apartamento.
Ardorosas
fãs de sua didática, sentiam-se eleitas pelo seu professor. A escolhida. Depois
de um período, que variava de cinco a nove meses, ele se desligava das histórias
e desaparecia. Bloqueava o nome nas redes sociais e prosseguia com sua caçada
selvagem por novas presas.
Suas
turmas transformaram-se num infeliz recrutamento de esposa e de amante. Ele
chama para sair, experimenta, vê se gosta e serve, e, dependendo, até convida
para morar junto.
Como
não é bonito, suas candidatas deduziam exclusividade. Cada uma delas jurava que
ninguém mais o queria e se cegavam para as ambiguidades e incoerências.
Nenhuma
delas fez reclamação, denúncia, nada, pois continuam amando-o, dependentes de
sua eterna aprovação. Ele mantém suas vítimas caladas pela esperança de um
reatamento. Baseou sua vida inteira no ato serial de transar com alunas, quando
estava casado, noivo ou namorando. Não foi uma exceção, exceção se perdoa, porém
consolidou um método intermitente de conquista.
Há um
problema sério de ética ao empregar a admiração da sala de aula para interesses
pessoais. Não é pouca coisa. O professor não poderia se exceder no exercício de
seu papel. É abusar de sua autoridade, tem uma influência psicológica que
supera barreiras de idade e de geração.
Não
há como dizer não a um ídolo, opor-se a um tutor. É o responsável pelo aluno,
pago para cuidar, definido pela instituição de ensino a orientar e promover
escolhas arrazoadas. Sua posição corresponde à de um segundo pai, e não poderia
destinar seu poder para quem não é capaz de se defender.
Significa evidente
caso de assédio moral, uma desproporcional covardia. Ainda mais quando se trata
de adolescentes, imaturas, com sua trajetória amorosa começando, sensualizadas
pelo conhecimento, que se deslumbram pela possibilidade de estar ao lado de
quem admiram e de quem era para ser um exemplo de sucesso.
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