quarta-feira, 8 de abril de 2015


08 de abril de 2015 | N° 18126
MOISES MENDES

Urubus mancos

T odos os dias, surge algum economista-chefe de alguma consultoria americana ou europeia para mercados emergentes que sabe tudo do Brasil. Eles dão entrevistas e falam com desembaraço sobre recessão, ameaça de golpe ou de impeachment, inflação, câmbio, juros e déficit primário.

Vão se juntando aos que falam do Brasil e enxergam aqui os sinais do fim do mundo. Os gurus estrangeiros de mercados emergentes surgem de repente como oráculos que você nunca viu e podem emitir as mesmas ideias medianas dos palpiteiros nacionais.

Num recente programa de TV, numa roda com três pensadores brasileiros, a conversa dava a entender que o Brasil não passa de agosto. Porque todos, mesmo sendo liberais, duvidam que Joaquim Levy possa levar adiante seu projeto de ajuste fiscal.

Todos queriam Levy e o ajuste, mas agora não sabem o que fazer com Levy e o ajuste. Não fazem previsões, torcem abertamente contra Levy, como torceriam contra Roberto Campos, se ele fosse o ministro da Fazenda.

E bradam os bordões do pessimismo. Um deles disse que Levy integra um governo que até pode chegar ao fim, mas como um pato manco. Como insistem na figura do pato manco. Encantaram-se com a metáfora manjada para definir um governante politicamente alquebrado.

Outro assegurou que o Brasil enfrenta hoje a tal tempestade perfeita – a combinação de furacões internos, na política e na economia, com ventanias externas. Ninguém aguenta mais os Cléos Kuhns da tempestade perfeita.

Entre no Google. Há 77 mil citações à tempestade perfeita. E há 15 mil sobre pato manco. Alguém, neste momento, está escrevendo que o navio do Brasil sairá aos pedaços da tempestade perfeita e que não há ortopedista que salve o pato manco.

É nessas horas que sinto saudade de Roberto Campos, de quem não falo desde o Natal. Nestes tempos em que economistas de mercados ricos quebrados desde 2008 se transformam em pregadores de mercados emergentes, é ruim ter que ouvir ou ler todos os dias que o Brasil não existirá mais até o final do inverno.


Campos seria mais inventivo. Sou obrigado a me repetir e citá-lo de novo. Que falta faz o humor de Roberto Campos nestes tempos de pessimistas chatos, que ele poderia definir, quem sabe, como os tempos dos urubus mancos.

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