Jaime
Cimenti
Frank Sinatra, Billie, Lupi, Tom, música
Documentário
da HBO com quatro horas de duração é parte das comemorações dos 100 anos de
nascimento de Frank Sinatra e mostra "the voice" contando sua história
com suas próprias palavras. No quarto de Frank está uma plaquinha: morre mais
feliz quem morre com mais brinquedos. Billie Holiday, one and only, e nosso
Lupi, ímpar, também completaram seus primeiros cem. Imaginem os próximos cem. Sarau
do São Pedro lá em riba bombando, com o trompete angelical de Louis Armstrong,
o pai de todos, as vozes de Nat King Cole e Bing Crosby, os best saxofones do
Charlie Parker e do Pixinguinha, pianos do Cole Porter e do Tom Jobim, que, aliás,
faz 100 anos daqui a pouco.
Muita
gente lá, muita gente chegando, a porta não fecha, tipo o Bar Bom Fim, esquina
da Felipe com a Osvaldo. Elvis, Beatles, Fats Domino, turma do rock, muita
gente. Elis Regina ainda é guria nessa turma, mas sempre estrela, ruma para os
cem brilhando.
Eu
ia falar de política, de economia, dos trombones sociais protestantes nas bocas
de muita gente aí pelo Brasil, ia falar dos rolos econômicos e políticos do País
e do Estado, mas resolvi falar de coisa mais séria, divertida e importante: música.
Música e amor, nada mais próximo de Deus, um alívio para essa hora mundial e um
alívio desde sempre. Bem que o Brasil poderia ser uma grande orquestra sinfônica,
afinada, com maestro sereno regendo composições variadas, com músicos diversos,
instrumentos múltiplos e, ao final, tocaríamos melodias para todos. Pois é... quem
sabe qualquer dia, qualquer hora, a gente se encontra.
Frank
Sinatra, voz do século XX, o maior. Mas ele disse, com sabedoria e humildade,
em 1965, que o Tony Bennett era o melhor cantor no showbusiness. Era verdade. Continua
sendo. Dizem que a mãe do Frank dizia: canta direito, guri, canta que nem o
Tony. Se não for verdade, poderia ser. Tony Bennett, aos quase 89 anos, deu um
upgrade para a Lady Gaga e eles pegaram um Grammy. Ela ainda mostrou que é uma
cantora gigante, na entrega do Oscar 2015. Beleza.
O
Frank old blue eyes se aposentou em 1971 no comovente show aquele de Los
Angeles. A jubilação durou pouco, uns dois anos. Aí veio o maior hit, New York,
New York, lançado em 1980, e o resto nunca mais foi silêncio. Ele bateu um bolão
até no Maracanã. Tony Bennett também estava esquecido, down, forgotten in
Manhattan e renasceu lindamente lá pelos anos 1980 e hoje tem agenda simpática
pelo planeta. Cantou aqui em Porto Alegre de pé, a cappella, sem ler nada. Daqui
a pouco, ele e Cauby Peixoto fazem cem anos, no maior astral.
Frank
Sinatra se encantou com a bossa nova. Ele e a torcida de todos os times do
mundo. Levou Tom Jobim para os Estados Unidos e aí ficou confirmado que a
melhor coisa que o Brasil produziu até hoje foi a bossa nova, e o Estados
Unidos, o jazz. Com influências recíprocas que renderam, rendem e renderão
muita música ótima.
a
propósito...
Se
você acha que este texto é desafinado, meio sem pé nem cabeça, com harmonia
estranha, e que eu não tenho ouvido ou talento privilegiado como o seu, tudo
bem. Desculpe, mas não vou sentir uma imensa dor. Vamos ser democráticos, cada
um com sua música. Te compreendo, até. Mas saiba que no peito dos desafinados
também bate um coração. No peito de todos bate um coração. Saiba que Frank
Sinatra adotou Tom Jobim antes mesmo de o Brasil reconhecê-lo. Saudades de Tom
Jobim, saudades de umas pessoas, de umas delicadezas, de umas coisas e de uns
antigos retratos do Brasil. Saudades do futuro.
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