sexta-feira, 17 de abril de 2015

Jaime Cimenti

Frank Sinatra, Billie, Lupi, Tom, música

Documentário da HBO com quatro horas de duração é parte das comemorações dos 100 anos de nascimento de Frank Sinatra e mostra "the voice" contando sua história com suas próprias palavras. No quarto de Frank está uma plaquinha: morre mais feliz quem morre com mais brinquedos. Billie Holiday, one and only, e nosso Lupi, ímpar, também completaram seus primeiros cem. Imaginem os próximos cem. Sarau do São Pedro lá em riba bombando, com o trompete angelical de Louis Armstrong, o pai de todos, as vozes de Nat King Cole e Bing Crosby, os best saxofones do Charlie Parker e do Pixinguinha, pianos do Cole Porter e do Tom Jobim, que, aliás, faz 100 anos daqui a pouco.

Muita gente lá, muita gente chegando, a porta não fecha, tipo o Bar Bom Fim, esquina da Felipe com a Osvaldo. Elvis, Beatles, Fats Domino, turma do rock, muita gente. Elis Regina ainda é guria nessa turma, mas sempre estrela, ruma para os cem brilhando.

Eu ia falar de política, de economia, dos trombones sociais protestantes nas bocas de muita gente aí pelo Brasil, ia falar dos rolos econômicos e políticos do País e do Estado, mas resolvi falar de coisa mais séria, divertida e importante: música. Música e amor, nada mais próximo de Deus, um alívio para essa hora mundial e um alívio desde sempre. Bem que o Brasil poderia ser uma grande orquestra sinfônica, afinada, com maestro sereno regendo composições variadas, com músicos diversos, instrumentos múltiplos e, ao final, tocaríamos melodias para todos. Pois é... quem sabe qualquer dia, qualquer hora, a gente se encontra.

Frank Sinatra, voz do século XX, o maior. Mas ele disse, com sabedoria e humildade, em 1965, que o Tony Bennett era o melhor cantor no showbusiness. Era verdade. Continua sendo. Dizem que a mãe do Frank dizia: canta direito, guri, canta que nem o Tony. Se não for verdade, poderia ser. Tony Bennett, aos quase 89 anos, deu um upgrade para a Lady Gaga e eles pegaram um Grammy. Ela ainda mostrou que é uma cantora gigante, na entrega do Oscar 2015. Beleza.

O Frank old blue eyes se aposentou em 1971 no comovente show aquele de Los Angeles. A jubilação durou pouco, uns dois anos. Aí veio o maior hit, New York, New York, lançado em 1980, e o resto nunca mais foi silêncio. Ele bateu um bolão até no Maracanã. Tony Bennett também estava esquecido, down, forgotten in Manhattan e renasceu lindamente lá pelos anos 1980 e hoje tem agenda simpática pelo planeta. Cantou aqui em Porto Alegre de pé, a cappella, sem ler nada. Daqui a pouco, ele e Cauby Peixoto fazem cem anos, no maior astral.

Frank Sinatra se encantou com a bossa nova. Ele e a torcida de todos os times do mundo. Levou Tom Jobim para os Estados Unidos e aí ficou confirmado que a melhor coisa que o Brasil produziu até hoje foi a bossa nova, e o Estados Unidos, o jazz. Com influências recíprocas que renderam, rendem e renderão muita música ótima.

a propósito...

Se você acha que este texto é desafinado, meio sem pé nem cabeça, com harmonia estranha, e que eu não tenho ouvido ou talento privilegiado como o seu, tudo bem. Desculpe, mas não vou sentir uma imensa dor. Vamos ser democráticos, cada um com sua música. Te compreendo, até. Mas saiba que no peito dos desafinados também bate um coração. No peito de todos bate um coração. Saiba que Frank Sinatra adotou Tom Jobim antes mesmo de o Brasil reconhecê-lo. Saudades de Tom Jobim, saudades de umas pessoas, de umas delicadezas, de umas coisas e de uns antigos retratos do Brasil. Saudades do futuro.


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