RUTH
DE AQUINO
24/04/2015
19h57
Balanço, mas não
caio
O
panorama em torno do fosso moral e financeiro da Petrobras não é alentador
O
balanço da Petrobras, a “joia” das estatais brasileiras, é uma confissão
pública da abissal incompetência da presidente Dilma Rousseff. Bastaram dois
anos, 2013 e 2014, para que 23 anos de lucros e distribuição de dividendos da
Petrobras fossem abortados pela mãe do PAE (Programa de Aceleração do
Endividamento). O lucro de R$ 23,6 bilhões virou prejuízo de R$ 21,6 bilhões.
Os desvios das propinas foram de R$ 6,2 bilhões.
A
desvalorização de ativos da Petrobras chegou a R$ 44,6 bilhões. Perdão pelo
enfileiramento de bilhões que nenhum de nós consegue sequer visualizar. Mas a
divulgação do balanço foi tão elogiada como início de um novo ciclo de
transparência e profissionalização da Petrobras que os números precisam ser
trombeteados.
Dilma
Vana Rousseff não concluiu os cursos de mestrado e doutorado em ciências
econômicas na Unicamp, apesar de constarem em seu currículo (ela já admitiu o
erro). Mas sua vida foi pautada por números. Seu primeiro cargo executivo foi
como secretária municipal da Fazenda em Porto Alegre, em 1985, há 30 anos. Ao
deixar a Secretaria, em 1988, tentou convencer seu substituto a não assumir o
cargo: “Não assume não, que isso pode manchar tua biografia. Eu não consigo
controlar esses loucos e estou saindo antes que manche a minha”.
Dilma
começou a escalar o setor de Minas e Energia. Foi dona da Pasta no ministério
de Lula. E presidiu o Conselho de Administração da Petrobras até 2010, quando
se elegeu presidente. Seu fiador era Lula. Ela foi a escolhida com base nos
seguintes quesitos: era especialista em energia, eficiente como “gerentona”
(gerente durona), mulher e mãe. Sua escolha não contou com o apoio do Partido.
Dilma foi imposta por Lula. Era considerada um poste. E um poste sem luz
própria, sem flexibilidade, sem gosto pela conversa e sem dom de oratória. Por
tudo isso, Dilma é hoje presa fácil dos políticos profissionais, que fazem dela
gato e sapato.
O
balanço da Petrobras revela o imenso desastre de uma presidente perdida em seu
primeiro mandato e, mais ainda, no segundo. Percebam que não dá para aceitar
sem ressalvas o balanço divulgado. Quem diz que a propina foi de “apenas” R$
6,2 bilhões? Ah, os delatores, que confessaram uma percentagem tal sobre os
contratos. Quem diz que o prejuízo foi de “apenas” R$ 21,6 bilhões em 2014? Ah
sim, o balanço foi auditado.
O
balanço não foi aprovado por unanimidade. Dois dos cinco conselheiros fiscais
não assinaram o documento. Eles representam acionistas minoritários e
trabalhadores. Só para refrescar a memória, a ex-presidente da Petrobras, Graça
Foster, caiu porque havia calculado a perda total da Petrobras em R$ 88,6
bilhões, o dobro do que foi admitido agora, de R$ 44,6 bilhões. Graça – ou
“Graciosa”, o apelido dado pela chefe – era, segundo o staff do Palácio da
Alvorada, a única assessora que podia dormir na residência oficial de Dilma
quando ia a Brasília. Caiu em desgraça por querer divulgar números mais
catastróficos que os revelados agora. Por que, então, eu ou você devemos crer
no balanço?
Devemos
crer porque queremos que o Brasil passe a dar certo. O brasileiro não quer
perder o otimismo, quer ver uma luz no fim do túnel. Mesmo que a reconstrução
leve anos. Essa é uma boa razão. Mas não é alentador o panorama em torno do
fosso moral e financeiro da Petrobras. O novo presidente, Aldemir Bendine, pede
desculpas e se diz envergonhado pelo que encontrou na estatal. Desmandos,
corrupção, roubalheira, péssimas decisões de investimento, interferência
política. Só que Bendine acabou de entrar. Ele não tem nada a ver com isso. E
Dilma? E Lula? Nada, nada mesmo?
Precisamos
crer na boa intenção de Dilma. Ela não quer ficar na História como a pior
presidente do Brasil. Suas ações são, no entanto, claudicantes. Típicas de
alguém que não sabe mais o que fazer. Dilma insiste em manter 38 ministérios.
Isso não tem desculpa, não tem perdão. Ela está paralisada. Com receio de
retaliação do Congresso, Dilma triplicou o Fundo Partidário para R$ 868 milhões
neste ano, a pedido do senador Romero Jucá, do PMDB. As raposas esfomeadas do Congresso
querem compensar a perda de doações empresariais.
O
presidente do Senado, Renan Calheiros, tirou proveito para alfinetar sua
ex-amiga Dilma. Criticou-a por esbanjar em momento de ajuste. Ela tentou se
defender. Disse ter cedido a um apelo do Legislativo. Tá ruço, Dilma. Não é
mais “ou dá ou desce”. É “dá e desce”. Por tudo isso, pela carestia da vida e
pelas mentiras desmascaradas, as panelas fazem estardalhaço nas janelas. Não é
só pela Petrobras.
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