sexta-feira, 10 de abril de 2015

Jaime Cimenti

Novo ministro, velhas questões

Renato Janine Ribeiro, professor aposentado de Ética e Filosofia Política Política da USP, autor de inúmeros livros e estudos acadêmicos e apreciador da cultura popular, assumiu como ministro da Educação. Em discurso, falou que pretende dar ênfase aos professores, que além de recursos materiais importa também o conhecimento. Boa sorte a ele, boa sorte aos professores, aos alunos, a todos nós e ao Brasil, um País que precisa de educação. Aproveitando sua posse e falando de educação de massa, um assunto grande, televisivo.

Em livro de 2005, Janine Ribeiro defendeu a tese de que a novela de televisão foi o gênero em que o Brasil melhor se saiu. Na sua visão, os folhetins da Globo, em especial, captaram nosso tempo e têm grande alcance social, varrendo preconceitos de costumes. O volume reuniu artigos publicados entre 2001 e 2003 em vários veículos, mas os conteúdos permanecem atuais. Ribeiro, todavia, apontou para os excessos do gênero, como a apresentação de vilões simpáticos, com qualidades humanas positivas; o poder público ausente na questão; e a presença forte do mercado na produção das telenovelas.

São questões polêmicas, importantes, que a presença de Renato Janine Ribeiro no Ministério da Educação pode, certamente, trazer de volta, para várias discussões em nível nacional, envolvendo toda a sociedade, dada sua importância federal e suas repercussões em vários níveis.

Esses tempos, conversando com o professor e escritor Luís Augusto Fischer, fiquei pensando sobre o porquê da ausência de romances, novelas e livros de contos de autores brasileiros nas listas de mais vendidos, nos últimos anos, no Brasil. Pensamos que a forte presença das telenovelas responde bastante por isso. Nada contra elas, que têm bom nível, cumprem seu papel e caíram no gosto do público, pelas razões que a gente sabe. Nada contra o sucesso internacional delas, também, que é merecido e que nos traz boas divisas.

O que faz pensar é se é razoável o imaginário nacional, nossas fantasias e nossa massa crítica ficarem entregues quase que totalmente a elas? E mais, ficarem destinadas, além delas, quase que só a livros de ficção de autores estrangeiros? Por que o drama da menina da Turquia toca mais do que o da menina do interior do Piauí? E mais por que o público brasileiro praticamente assiste somente dramas e comédias que se passam no eixo Rio-São Paulo?

Esses temas educacionais e culturais merecem questionamentos e discussões. Envolvem nossa cara, nossa educação, nossa cultura, nossa cidadania, nossos valores, nosso presente e futuro, enfim. A presença da televisão e das telenovelas é gigantesca, fundamental, inevitável, e é preciso pensar e agir a respeito. Forma, conteúdo, mercado, poder público e privado, estas e outras questões precisam ser colocadas na mesa. A sociedade deve opinar sobre a TV. E não só com o controle remoto.

a propósito...

Não seria interessante, em se tratando de canais de TV públicos e, mesmo nos de concessões governamentais, que houvesse pesquisas periódicas para saber o que os cidadãos-contribuintes pensam sobre as programações, conteúdos, audiências e horários e sobre o que gostariam de assistir? Com os meios digitais e eletrônicos atualmente disponíveis, tais pesquisas não seriam muito dispendiosas e, certamente, todos sairiam ganhando com isso. Poderíamos avançar em vários aspectos. Em alguns países, por exemplo, os cidadãos contribuem diretamente para o sustento de emissoras públicas, com bons resultados.


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