Jaime
Cimenti
Novo ministro, velhas
questões
Renato
Janine Ribeiro, professor aposentado de Ética e Filosofia Política Política da
USP, autor de inúmeros livros e estudos acadêmicos e apreciador da cultura
popular, assumiu como ministro da Educação. Em discurso, falou que pretende dar
ênfase aos professores, que além de recursos materiais importa também o
conhecimento. Boa sorte a ele, boa sorte aos professores, aos alunos, a todos
nós e ao Brasil, um País que precisa de educação. Aproveitando sua posse e
falando de educação de massa, um assunto grande, televisivo.
Em
livro de 2005, Janine Ribeiro defendeu a tese de que a novela de televisão foi
o gênero em que o Brasil melhor se saiu. Na sua visão, os folhetins da Globo,
em especial, captaram nosso tempo e têm grande alcance social, varrendo
preconceitos de costumes. O volume reuniu artigos publicados entre 2001 e 2003
em vários veículos, mas os conteúdos permanecem atuais. Ribeiro, todavia,
apontou para os excessos do gênero, como a apresentação de vilões simpáticos,
com qualidades humanas positivas; o poder público ausente na questão; e a
presença forte do mercado na produção das telenovelas.
São
questões polêmicas, importantes, que a presença de Renato Janine Ribeiro no
Ministério da Educação pode, certamente, trazer de volta, para várias
discussões em nível nacional, envolvendo toda a sociedade, dada sua importância
federal e suas repercussões em vários níveis.
Esses
tempos, conversando com o professor e escritor Luís Augusto Fischer, fiquei
pensando sobre o porquê da ausência de romances, novelas e livros de contos de
autores brasileiros nas listas de mais vendidos, nos últimos anos, no Brasil.
Pensamos que a forte presença das telenovelas responde bastante por isso. Nada
contra elas, que têm bom nível, cumprem seu papel e caíram no gosto do público,
pelas razões que a gente sabe. Nada contra o sucesso internacional delas,
também, que é merecido e que nos traz boas divisas.
O
que faz pensar é se é razoável o imaginário nacional, nossas fantasias e nossa
massa crítica ficarem entregues quase que totalmente a elas? E mais, ficarem
destinadas, além delas, quase que só a livros de ficção de autores
estrangeiros? Por que o drama da menina da Turquia toca mais do que o da menina
do interior do Piauí? E mais por que o público brasileiro praticamente assiste
somente dramas e comédias que se passam no eixo Rio-São Paulo?
Esses
temas educacionais e culturais merecem questionamentos e discussões. Envolvem
nossa cara, nossa educação, nossa cultura, nossa cidadania, nossos valores,
nosso presente e futuro, enfim. A presença da televisão e das telenovelas é
gigantesca, fundamental, inevitável, e é preciso pensar e agir a respeito.
Forma, conteúdo, mercado, poder público e privado, estas e outras questões
precisam ser colocadas na mesa. A sociedade deve opinar sobre a TV. E não só
com o controle remoto.
a
propósito...
Não
seria interessante, em se tratando de canais de TV públicos e, mesmo nos de
concessões governamentais, que houvesse pesquisas periódicas para saber o que
os cidadãos-contribuintes pensam sobre as programações, conteúdos, audiências e
horários e sobre o que gostariam de assistir? Com os meios digitais e
eletrônicos atualmente disponíveis, tais pesquisas não seriam muito
dispendiosas e, certamente, todos sairiam ganhando com isso. Poderíamos avançar
em vários aspectos. Em alguns países, por exemplo, os cidadãos contribuem
diretamente para o sustento de emissoras públicas, com bons resultados.
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