03
de março de 2014 | N° 17721
LIBERATO
VIEIRA DA CUNHA
Balcão de informações
No
outro dia me submeti ao suplício de buscar um balcão de informações. Uma
senhorita de nariz empinado e profundo desprezo pela humanidade consertava o
esmalte das unhas, folheava uma dessas revistas sobre ricos e famosos e, a
intervalos, como se fizesse um favor ao universo, chamava o número de uma ficha.
Logo percebi que me encontrava diante de uma legítima portadora do vírus da
Sipa, ou, mais claramente, da Síndrome da Pequena Autoridade.
Conheço
centenas de seus colegas. É fácil distingui-los. Basta verificar com que volúpia
exercem seus mínimos poderes, com que ar de suprema importância e fingida
intimidade atendem aos telefonemas de seus superiores, contam graças, riem de
confidências tão verdadeiras quanto uma nota de três reais. É fantástico
observar o prazer com que repreendem seus subordinados, ou, numa repartição pública,
citam artigos, parágrafos e incisos de desconhecidas leis e decretos, só para
provar que você não tem razão.
Deles
é o reino, o poder e a glória, principalmente quando são chefes. Com que divina
sensação de poder constatam um erro de soma ou de ortografia, com que sublime
deleite transformam culpas triviais em desgraças siderais, com que concentrada
atenção lançam olhos de lince para o livro-ponto. Não são raros os mestres da
intriga, os a summa cum laude na arte da discórdia, os PhDs na cizânia, os
promotores de culpas inexistentes. E não preciso dizer que são também imbatíveis
nas técnicas da vingança.
Contra
quem?
Isso
para eles importa tanto quanto um dólar furado.
Das
alturas em que se eleva sua imaginação, todos lá embaixo merecem imediato
castigo, rápida, exemplar punição.
Falei
no começo de uma senhorita de nariz empinado, que pintava as unhas, enquanto o
comum dos mortais mendigava por dois segundos de sua atenção.
Pois
essa digna representante da Síndrome da Pequena Autoridade dorme muito bem
todas as noite e sonha com os anjos.
Já nós,
os deserdados, nascemos para as filas, as longas esperas, as afrontas.
Quem
nos mandou pensar que somos iguais à dama que se acredita íntima dos ricos e
dos famosos?
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