RUTH
DE AQUINO
30/12/2013
09h26 - Atualizado em 30/12/2013 09h31
Nossos votos
Nossos
desejos são nossos votos, na urna e numa ideia fixa: uma sociedade mais educada
e sadia
Confesso
ter problema com a palavra “aposta”. Todos os significados dela me incomodam. O
significado mais comum implica ganhar ou perder dinheiro. Ou se aposta num
cavalo ou numa certeza. Quando se aposta – com um amigo ou num vício – ,
arrisca-se muito. Grana ou reputação. Às vezes ambas.
Prefiro
os desejos às apostas. Podemos ser mais livres e delirantes ao desejar. Podemos
ser utópicos. No ano de 2014, de eleição e Copa, nossos desejos são, mais do
que qualquer troféu, nossos votos. Votos na urna e numa ideia fixa: uma
sociedade mais educada, mais sadia, mais responsável, mais ética e menos
violenta.
1.
Que o próximo presidente ouça a voz das ruas e, antes de investir US$ 4,5
bilhões em caças suecos, escolha suas prioridades de emergência, entre elas a
Saúde, evitando que pacientes morram na fila da rua ou da cirurgia, por
negligência e omissão.
2.
Que o próximo presidente entenda a expressão “mobilidade urbana” e, em vez de
inundar as ruas de carros particulares, invista em trens e transporte público
de qualidade, com integração real entre rodoviárias, aeroportos, metrôs e
ônibus. Que invista também em rodovias mais seguras, porque nossas estradas
hoje são de quinta categoria.
3.
Que o próximo presidente, consciente de que quase 40% das famílias brasileiras
são hoje chefiadas por mulheres, invista numa política nacional de creches, em
quantidade e qualidade, permitindo assim que possamos conciliar com um mínimo
de tranquilidade e competência nossas funções de mãe e trabalhadora.
4.
Que o próximo presidente remunere direito os professores e aumente a carga
horária das escolas no Brasil, do ensino fundamental às universidades, para que
crianças e adolescentes não fiquem apenas cinco horas por dia em instituições
de ensino, enquanto os pais trabalham em tempo integral.
5.
Que o próximo presidente ataque de frente o deficit profundo de habitação
popular, poupando as famílias brasileiras de viver indignamente em barracos e
favelas sem esgoto, sem segurança nem saneamento, com perigo de desmoronamento
ou risco de tuberculose, junto a áreas de elite nos grandes centros urbanos ou
nos rincões remotos e abandonados.
6.
Que o próximo presidente tenha ética, determinação, apoio e moral suficientes
para tirar a política brasileira desse pântano de corrupção e privilégios,
acabando com supersalários e supermordomias num dos Congressos mais caros e
menos eficientes do mundo. Que sejam punidos exemplarmente todos que tirarem
proveito particular de seus cargos públicos.
7.
Que o próximo presidente ajude os Estados a ter uma política consequente de
segurança. Temos visto apenas iniciativas isoladas e criativas, como as UPPs no
Rio. Sem uma contrapartida maciça de serviços públicos e sociais, elas acabam
torpedeadas por bandidos com e sem farda. O risco é viver, cada vez mais, em
cidades sem lei, onde se corre o risco de ser assaltado e morto ao andar na rua,
ir à praia, pegar um ônibus, comer num restaurante, pegar dinheiro num caixa
eletrônico de banco, chegar a sua garagem ou parar num engarrafamento.
8.
Que o próximo presidente leve a sério o meio ambiente e o destino do lixo com
campanhas de educação. E que não apenas multe, mas prenda os especuladores
criminosos que destroem nossos parques, lagoas, praias e reservas.
9.
Que o próximo presidente revele à população como são gastos os impostos, num
país onde a arrecadação tributária bate recordes. E que os impostos sejam
transformados em benefício dos contribuintes.
10.
Que o próximo presidente não escamoteie os índices de inflação e não minta sobre o real estado da
economia do Brasil.
Aí
sim, o Brasil seria campeão em 2014.
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