ALEXANDRE
SCHWARTSMAN
2014: o ano que já
acabou
Não
parece provável que o governo se engaje em um esforço de austeridade às
vésperas da eleição
Não
que eu acredite muito nisto. Se aprendi algo ao longo dos anos, é que eventos inesperados
têm o péssimo hábito de ocorrer justamente quando não se espera e cenários que
parecem dados --como baixo crescimento e alta inflação em 2014-- podem tomar
rumos surpreendentes.
Isto
dito, para ser sincero, creio mesmo que este ano não será muito diferente de
2013, mas o verdadeiro objeto do título não é exatamente o desempenho concreto
da economia, mas sim a percepção de que, apesar dos problemas, são baixas as
chances de mudança na política econômica, ao menos até 2015.
Não
há economista sério que não esteja, em algum grau, preocupado com os
desenvolvimentos recentes. Mesmo os que, até há pouco, faziam da defesa da
política econômica um estilo (quando não um meio) de vida já começaram,
cautelosamente, a recuar de suas trincheiras.
A
expansão medíocre do produto, a inflação mal e mal contida a golpes de
controles diretos de preços, o crescente deficit externo, somados ao desempenho
pífio da produtividade, sugerem que o atual arranjo de política é
insustentável.
Há,
a bem da verdade, exemplos de países que mantiveram (ou mantêm) situações
insustentáveis por períodos até bastante longos, alguns do quais
desconfortavelmente próximos, mas não há casos de economias que tenham
prosperado sob essas condições. Pelo contrário, há sempre um momento em que a
farsa se desfaz e a crise sobrevém.
Sabe-se,
portanto, ser necessária uma mudança nos rumos de política econômica para
evitar que o país atinja um estado do qual não conseguirá sair sem
consequências dolorosas. É cada vez mais claro, em particular, que o governo
precisa encarar um considerável ajuste fiscal, principalmente no que se refere
às suas despesas.
Não
se requer, contudo, nenhum conhecimento político mais profundo para concluir
que --tendo evitado fazê-lo sob condições eleitorais mais favoráveis-- não
parece nada provável que o governo possa se engajar em um esforço de
austeridade às vésperas da eleição. Ainda que Brasília acene timidamente com
promessas de não piorar adicionalmente seu já lamentável desempenho, os
Estados, crescentemente livres das amarras previamente impostas pela União,
devem aumentar ainda mais seus gastos.
Por
outro lado, o Banco Central sinaliza com a interrupção do processo de aperto
monetário ainda no primeiro trimestre, mantendo a taxa de juros em níveis que
seus próprios modelos apontam ser incompatíveis com o retorno da inflação à
meta até ao menos o final de 2015.
É
nesse aspecto preciso que o ano que hoje se inicia parece já ter terminado. Os
dados da política econômica estão lançados: o que irá ocorrer em 2014, portanto,
está determinado deste ponto de vista. O ambiente externo e outros fenômenos
imprevisíveis terminarão de dar forma à economia neste ano, mas a contribuição
do governo foi feita.
A
dúvida (talvez a esperança) que persiste refere-se a 2015. Um novo governo se
instalará (muito provavelmente, a continuação do atual) e terá a oportunidade
de promover os ajustes requeridos livre da camisa de força eleitoral. Resta
saber se a aproveitará.
Confesso
meu pessimismo. No cenário político mais provável, isto é, continuidade, a
vitória nas eleições dificilmente poderia ser interpretada como pedido de
mudança --muito pelo contrário.
A
menos que alterações sejam impostas por desenvolvimentos desfavoráveis no front
externo (por exemplo, um rebaixamento das notas do país, ameaçando o grau de
investimento), a tendência, creio, seria a de redobrar a aposta fracassada:
piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando
a ideologia onde deveria governar o pragmatismo.
E,
aí sim, iremos testar os limites da sustentabilidade e atribuir nosso fracasso
à "guerra psicológica".
alexandre.schwartsman@hotmail.com
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