terça-feira, 5 de julho de 2011



05 de julho de 2011 | N° 16750
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Sobre um e-mail

Na calma manhã de domingo, um dia gelado, pois parece que o inverno enfim chegou de verdade, acesso meus e-mails. São dezenas de mensagens, das mais diversas procedências e espécies. Ponho de lado os recados de empresas, instituições, convites, autores e atores e me fixo nos remetidos por pessoas que só querem dialogar comigo, ou me mandar um comentário sobre uma de minhas crônicas.

A estas dedico uma atenção particular. São elogios e observações críticas sobre os meus textos, mais aqueles do que estas. Fico pensando como leitores que devem trabalhar, ter compromissos, acham disposição e tempo para me dedicar uma parte de suas horas e mandar-me dizer o que pensam sobre uma frase, um pensamento, uma reflexão que passei para as páginas do Segundo Caderno de Zero Hora, uma das melhores e mais lidas partes do jornal.

Compareço aqui desde 1985, o que significa 26 anos, ou seja, a época em que muitos dos meus leitores, que hoje me escrevem, nem haviam nascido. Componho estas crônicas por prazer. E também por uma necessidade íntima de me confessar em público. Produzir crônicas, já dizia Rubem Braga, é viver em voz alta, se não erro na citação.

Uma das leitoras que frequentam meus e-mails hoje se mostra curiosa porque, tendo um milhão de assuntos, me fixo tantas vezes em Cachoeira. É porque em Cachoeira estão minhas raízes e algumas de minhas melhores lembranças. Foi lá onde nasci e vivi boa parte da infância e da adolescência. Foi lá também que fiz amizades que até hoje me acompanham.

Já em Porto Alegre, numa época em que nem se sonhava com a internet e muito menos com e-mails, buscava cada manhã a caixa de correspondência para achar alguma carta de namoradas de minha terra, não raro seladas com gotas de perfume Toque de Amor.

Meu primeiro livro e vários dos seguintes foram lançados em Cachoeira. Em Cachoeira vivi belos momentos de minha vida, dos bailes e reuniões do Comercial e do Rio Branco aos amores da primeira juventude.

Nada disso habitará jamais o passado. Tudo permanecerá comigo como um presente. Especialmente quando receber um e-mail de Cachoeira.

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