terça-feira, 12 de julho de 2011



12 de julho de 2011 | N° 16757
PAULO SANT’ANA


Aznavour em espanhol

Adoro cantores. Eu tenho veneração, por exemplo, pelo Charles Aznavour. Agora mesmo o João de Almeida Neto e a Jane Vidal me deram carinhosamente de presente um CD do Aznavour cantando, em espanhol, os seus maiores sucessos.

Nunca vi nada mais lindo.

Então, quando me é possível comparecer a show de cantores, compareço.

Eu só não suporto quando vou a um show ou mesmo a um bar noturno ouvir um cantor e ele canta duas ou três músicas e a seguir ameaça: “Agora vou cantar uma música de minha autoria.”

Eu me levanto e vou embora.

Porque eu fui lá para ouvir o cantor cantar músicas de grandes autores, clássicos.

E sou obrigado a ouvir o cantor cantar música de autoria dele, que foi se meter no terreno dos compositores, e isso quase sempre é um desastre.

“De minha autoria”, eu só aceito Chico Buarque, assim está bem, mas o Chico não é cantor, longe disso.

Da mesma forma, quando vou a um analista, ocorre que depois da décima consulta eu e ele vamos ficando amigos: é então chegada a hora de mudar de analista.

Cheguei a escrever certa vez que o analista não pode ser amigo do cliente, de preferência ele tem de ser inimigo.

Cada macaco no seu galho. Como me ensina mestre João Ellera Gomes, o músculo flexor serve para fechar a mão, já o músculo extensor serve para abrir a mão.

O médico não deve invadir a área do dentista; o marceneiro, a do mecânico.

Tem médico otorrino que, no entanto, não se dedica a tratar de gargantas dos pacientes, há uns que até só tratam de ouvidos.

A área de um cirurgião é uma, a do clínico outra. É o que se chama tecnicamente de competência.

Ovelha não é para mato, sapo não se dá bem na selva.

Massa não se come junto com arroz, embora valha também o conselho para massa com feijão, mas eu adoro essa mistura.

Anteontem, foi um dos dias mais sofridos para mim, como gremista.

Fiquei diante da televisão indefeso, pois o Grêmio ia jogar com o Coritiba e, se perdesse ou empatasse, chafurdaria na zona do rebaixamento.

Além disso, incrivelmente, Julinho Camargo, o novo treinador gremista, estava deixando Miralles no banco. A melhor contratação do Grêmio em 2011 no banco, imaginem como me senti.

O jogo foi se arrastando por quase uma hora, e o zero a zero ia queimando a minha pele. Além disso o goleiro gremista Marcelo Grohe fizera duas defesas monumentais, o que mais ainda me aterrorizou.

Felizmente, Gilberto fez um golaço, André Lima fez o outro e eu desabei de alegria no sofá.

Com a vitória, o Grêmio mandou para longe a zona de rebaixamento.

Mas antes disso sofri como um paciente cirurgiado sem anestesia.

Porque, se não sou mais gremista do que ninguém, ninguém é mais gremista do que eu.

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