domingo, 24 de julho de 2011


ELIANE CANTANHÊDE

Vitória pela metade

BRASÍLIA - Segundo a revista "The Economist", o lulismo venceu o chavismo, que está em "declínio terminal". Apesar disso, Lula desertou de ideias, discursos e batalhas que o PT nasceu e cresceu combatendo. E, assim, ele perdeu uma outra guerra -pela ética. Dilma resgatou a responsabilidade.

A posse do esquerdista Ollanta Humala na Presidência do Peru, na próxima quinta, é mais um dado do isolamento do "chavismo", que encantou parte da América do Sul na década passada e entra em declínio justamente quando o venezuelano Hugo Chávez enfrenta uma nova frente, desta vez pela vida.

Humala se lançou candidato como chavista, mas já na campanha deu uma guinada para o lulismo. Quem assume não é o Humala anti-imperialista e anticapitalista. Vem aí o Humala moderado, determinado a aprofundar a inclusão social mas também a garantir a estabilidade econômica e a atrair investimentos privados. A ver.

É assim que a Venezuela vai se tornando uma ilha. A direita recupera espaços e a velha esquerda se acomoda e cede ao pragmatismo na região. Quando olharem em volta, Rafael Correa, do Equador, e Evo Morales, da Bolívia, vão descobrir que estão à deriva.

O projeto político e econômico de Lula venceu, sim, o de Chávez. Mas Lula usou o pretexto da governabilidade para se aproximar perigosamente, até alegremente, de oligarquias agonizantes, de conhecidos corruptos e das elites corruptoras. Empurrou a sujeira, como a dos Transportes, para a sucessora.

Tão diferentes, um democrático, outro autoritário, o lulismo e o chavismo se fundiram na complacência com desvios, comprovando que o discurso é um e, no poder, a prática é outra. Ambos se renderam à cultura de corrupção que se alastrou pelas Américas desde suas origens e não perdoou o Brasil.

Que a economia dê forças a Dilma para fazer o que Lula não teve coragem, ou vontade, de fazer.

elianec@uol.com.br


DANUZA LEÃO

Alguma coisa está errada

Mulheres, quando feridas, podem ser muito más; ela esperou nove anos para se vingar, e chegou a hora

SEGUNDO REPORTAGEM publicada em "O Globo", a revista francesa "L'Express" contou em detalhes como vai a vida mais do que íntima do ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn, que está sendo discutida não só nos jornais como também nos tribunais, vê se pode.

A história: a jornalista francesa Tristane Banon, 32, se diz vítima de uma suposta tentativa de estupro, acontecida em 2002; passou nove anos calada e agora resolveu contar. Essas coisas têm de contar logo ou esquecer. Estupro é estupro, e tentativa de estupro é meio vago. Pode ter sido uma forte tentativa de sedução, que a moça confundiu e achou que era tentativa de estupro.

Prosseguindo: eis que surge Anne, mãe da jornalista, contando que teve uma relação -consentida- com Strauss-Kahn há 11 anos, relação essa classificada por ela como "sexo brutal". E mais: declarou que o sexo de Strauss-Kahn tinha "a vulgaridade de um soldado", que os dois tiveram "relações sexuais brutais" e que ele se comportou como "um cafajeste obsceno, que a luxúria sexual o faz querer dominar", palavras dela.

Detalhe: tudo aconteceu no escritório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, e volto a lembrar: o sexo foi con-sen-ti-do.

Para começar: como é que Anne pode saber que o sexo com Strauss-Kahn tinha a vulgaridade de um soldado? Se disse, é porque deve ter conhecido alguns (ou muitos) soldados, todos fazendo sexo brutal, só assim ela podia comparar. Eu não acredito nada nessa história, e vou dizer o que penso.

Anne transou com Strauss-Kahn num escritório; dois anos depois, o galã paquerou Tristane, filha dela, que foi aconselhada pela mãe a ficar de bico calado. No meu entender, por uma questão de vaidade, para que os companheiros de escritório, que sabiam da transa, não ficassem sabendo da paquera da filha.

Um problema de vaidade feminina, dá para entender; e em se tratando de uma mulher muito mais jovem, e ainda por cima filha, só faz piorar as coisas. Foi ela, Anne, que se portou como uma cafajeste, contando à imprensa a maneira como ele transava, coisa que não se faz.

Algumas mulheres, quando feridas, podem ser muito más; Anne esperou nove anos para ter a chance de se vingar, e chegou a hora: ela agora incentiva a filha a contar o que aconteceu há tanto tempo para acabar com a reputação do homem com quem ela teve uma transa rápida -segundo eu entendi, uma só- e da qual ela deve ter gostado muito, para depois de tanto tempo ainda querer se vingar (se quer, é porque não se esqueceu).

Não há nada mais absurdo do que a jornalista francesa indo depor perante a Justiça dos EUA, para denunciar algo que não chegou a acontecer, há nove anos, em outro país. Isso não faz nenhum sentido.

Existem homens que procuram ter relações sexuais em qualquer lugar, com todas as mulheres, mesmo num escritório, e como eles são mais fortes fisicamente, é bom que elas sejam cautelosas, e para não correrem certos riscos, não ficarem sozinhas com homens que conhecem pouco; geralmente -mas nem sempre - dá para saber com que tipo de homem se está lidando, para evitar situações perigosas.

Mas quem gosta mesmo de Strauss-Kahn é a atual mulher dele, que bancou US$ 5 milhões de fiança para que ele não ficasse preso, alugou um luxuoso apartamento em NY para ficarem juntos, e o casal não se larga, com toda essa confusão.

Ela deve ter suas razões; suas boas razões.

danuza.leao@uol.com.br

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