Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 19 de julho de 2011
19 de julho de 2011 | N° 16766
FABRÍCIO CARPINEJAR
Q’boa
Após infidelidade, Fernanda jogou as roupas de meu amigo Felipe pela janela do prédio. Apareceram todas espalhadas no jardim, na piscina, no telhado do estacionamento.
Aquilo não foi vingança. Ele nem se vestia bem – nunca deu valor para o próprio figurino, capaz de sair com um tênis laranja da Nike e outro azul da Adidas.
Felipe não mexeu o traseiro, não se desesperou para recolher suas coisas. Fez de conta que era uma chuva de mantimentos da ONU no bairro.
Não compreendo por que as mulheres insistem em rasgar nossas roupas ou despejá-las andares abaixo. Não há sentido na atitude. Elas é que sofreriam com isso, não a gente. Cometem a imprudência de nos castigar com dor alheia.
Felipe ficaria fulo e possesso se Fernanda queimasse seu álbum completo da Copa de 82. Seria imperdoável. As figurinhas vinham dentro dos chicletes, ele estragou os dentes, sacrificou bolas de gude no recreio, roubou moedas da bolsa da mãe para finalizar as imagens das seleções.
Homem não tolera perder a infância de novo. É mexer na sua infância que ele esperneia – pode ser na forma de uma coleção de selos, de camisetas de futebol, de bolachas de chope, de LPs. Não há um único macho no mundo que não guarde um acervo emocional. Quer matar seu marido de susto? Põe fora sua nostalgia de guri.
Já a mulher teme agressões contra seu closet (homem não tem closet, mas guarda-volumes). O coração feminino é uma delegacia contendo abusos como desfiamentos, rasgões e puxões. A meia-calça é a vítima mais recorrente da força e falta de jeito dos parceiros.
Portanto, uma das represálias mais diabólicas consistiria em derramar partículas de Q’boa nas calças, camisas e saias da esposa. Pequenas gotas de água sanitária, o suficiente para estragar um tecido pelo resto da vida e transformar qualquer Ocimar Versolato em lembrança de Fátima.
E, de modo nenhum, alardear a maldade. Executar o ato em silêncio, a sangue-frio, deixar que ela encontre uma por uma das máculas ao longo dos dias. Haverá gemidos de pânico quando alguém apontar a descoloração nas peças. No ranking de horror da mulher, a Q’boa surge em segundo lugar, atrás apenas das baratas e seguida das traças.
Mas, sinceramente, eu não teria coragem. Não gostaria de ser um inseto esmagado por um salto 15.
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