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sábado, 30 de julho de 2011
30 de julho de 2011 | N° 16777
NILSON SOUZA
A execução e o terremoto
Se o futebol é mesmo uma metáfora da vida – como já afirmaram vários autores, incluindo-se aí o uruguaio Eduardo Galeano –, o pênalti, do ponto de vista do cobrador, é a encruzilhada entre o dever e o fracasso. Parece fácil, mas até os maiores craques tremem quando se encaminham para a bola. É uma espécie de pelotão de fuzilamento ao contrário: o artilheiro é que corre maior risco de ser alvejado pelo próprio tiro.
São 11 metros entre a marca fatal e as balizas, que formam um retângulo com 7m32cm de largura e 2m44cm de altura. Qualquer criança é capaz de colocar a bola num espaço dessa dimensão.
Claro que há um goleiro lá dentro, mas com enormes limitações, sem poder tirar os pés da linha antes da bola ser chutada. Porém, tudo se modifica numa cobrança decisiva: o gol fica diminuto, o goleiro se agiganta e a bola se transforma em chumbo para o homem encarregado de arremessá-la às redes. É pressão demais.
O estádio, qualquer estádio, se transforma num coliseu romano lotado de espectadores impacientes que fuzilam o gladiador com olhares implacáveis, exigindo a execução. Ele sabe que não pode falhar. Se errar, os polegares acusadores apontarão inexoravelmente para o chão.
Atletas treinam muito para executar com perfeição os movimentos do esporte. O cobrador de pênaltis já fez dezenas, centenas, até milhares de vezes o que vai fazer agora. Mas ele sabe que nenhuma daquelas vezes foi igual a outra. Sabe, também, que a bola tem as suas manhas, às vezes tem vontade própria, nem sempre cumpre a trajetória pretendida pelo pé que a impulsiona.
O torcedor não sabe disso. De pé na arquibancada, ou roendo as unhas diante da televisão, imagina que é moleza acertar o cantinho, colocar a bola no ângulo, enganar o goleiro com um chute de efeito.
Nem lhe passa pela cabeça que aquele homem encarregado da cobrança leva nos ombros um fardo maior do que pode suportar. É inadmissível, para a lógica da paixão, que um jogador profissional possa arrematar por cima do travessão daquela distância, chutar pela linha de fundo ou – o improvável que tanto se repete – acertar uma trave de, no máximo, 12 centímetros de espessura.
Mas o carrasco prestes a se transformar em condenado sabe que até um pequeno terremoto costuma ocorrer naqueles décimos de segundo em que ele avança para a bola. E o pior é que ninguém vai acreditar que a grama se desprendeu sob seus pés, que a própria marca do pênalti se movimentou e que o tremor do mundo (ou de suas pernas?) tirou-lhe a concentração.
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