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quarta-feira, 27 de julho de 2011
ANTONIO PRATA
Obituário
Panachão só voltou ao Brasil no mês passado, bastante debilitado pela doença, para morrer na casa de infância
SERÁ ENTERRADO nesta quarta-feira, em Arapiromba do Alto, oeste paulista, o grande físico e músico experimental Eurico Panachão. Não se envergonhe o leitor se jamais tiver ouvido falar nesse nome, nem estranhe se os jornais de hoje não dedicarem uma única linha à morte do professor -consequências esperadas da desimportância que se dá à ciência por estas plagas.
Felizmente, o ilustre arapirombense não precisou de nosso reconhecimento: recém-formado, foi contratado pela South Virginia University, nos EUA, onde lecionou por cinco décadas e desenvolveu relevantes pesquisas envolvendo física e música. Só voltou ao Brasil no mês passado, já bastante debilitado pela doença, para morrer na casa de infância, próximo aos familiares e ao Mercado Santa Terezinha -onde tudo começou.
Se Newton teve a maçã, Arquimedes, uma banheira, e Mendel, as ervilhas, a fagulha de Eurico Panachão foi um carrinho de supermercado. Um dia, ajudando a mãe a levar as compras para casa, o jovem estudante de física reparou no sonoro tremelique que o carrinho dava ao passar pelas ranhuras da calçada. Panachão, que também era músico e apreciador do samba, teve naquele momento um insight: viu as ruas de Arapiromba como uma enorme partitura, o carrinho como um instrumento e entendeu a que dedicaria sua vida.
A primeira peça para "carrinho e calçada" foi executada no dia seguinte. Ajudado por dois amigos, Panachão fez diversas ranhuras no concreto, ao longo de um quarteirão, a distâncias previamente calculadas, de modo que o carrinho, passando sobre elas a uma velocidade constante, sacolejasse no mesmo ritmo do pandeiro em "Um a Zero", de Pixinguinha.
Durante semanas, o cientista fez exaustivas experiências com carrinhos cheios e vazios, novos e usados, com ou sem "cadeirinha", até conseguir criar, usando dez deles simultaneamente, em dez "trilhas" paralelas, o efeito de uma verdadeira escola de samba.
O grande salto de Panachão, contudo, que lhe rendeu elogios de Hermeto Pascoal a Stephen Hawking, foi quando decidiu que os carrinhos deveriam ser conduzidos pela gravidade, e passou a fazer experimentos em ladeiras. A maior dificuldade era calcular a razão entre a aceleração dos "instrumentos" e a distância das ranhuras: afinal, ao longo do trajeto, eles iam ganhando velocidade, mas a música deveria, sempre, manter-se no mesmo andamento.
As fórmulas desenvolvidas para essas composições eram tão complexas -incorporavam variáveis como a inclinação do solo, o atrito, o vento, a propagação das ondas sonoras- que chegaram a ser usadas nas missões Apolo, ajudando a calcular a aceleração e o ângulo de entrada dos módulos espaciais na atmosfera. Há boatos, inclusive, de que os russos tentaram levar Panachão para seu programa espacial, em 1967.
O ilustre arapirombense, contudo, teria recusado, alegando estar muito ocupado em seu grande projeto, jamais concluído: uma sinfonia percussiva para neve e 130 trenós, a ser executada numa encosta do Everest.
Panachão morreu ontem, em casa. O velório realizar-se-á no Mercado Santa Terezinha e o enterro está marcado para as 16h30, no cemitério Bom Jesus, Arapiromba do Alto, São Paulo, Brasil.
antonioprata.folha@uol.com.br
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