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sábado, 9 de julho de 2011
09 de julho de 2011 | N° 16754
PAULO SANT’ANA
Alegres tempos
Como eram alegres os tempos da nossa boemia.
Fatigávamos os corpos de contentamento, de cantos e de danças, mas nunca pensávamos em dormir e torcíamos para que a manhã não chegasse.
Cada um esperava sua vez de cantar, mas não raro todos cantavam junto com os solistas as canções da nossa paixão, do nosso amor, dos nossos sonhos.
Não sei qual era a nossa idade, pois não pensávamos em idade, íamos deixando nos levar por aquele sopro da juventude que nos impelia à emoção dos devaneios.
As nossas almas erguiam nossos corpos e ficávamos enlevados pelas canções como se o tempo tivesse parado e nunca fossem murchar as flores do nosso entusiasmo.
Como eram alegres os tempos da nossa boemia!
Éramos tão felizes e realizados como adultos que não cruzavam na nossa memória as recordações da infância.
Infância para que, se era hora de curtir o que restava da nossa juventude?
Éramos todos recém-casados ou solteiros, um tempo em que ainda não se trombava com a dureza das relações.
Era um tempo em que se fumava e se bebia com impunidade, era lícito e bem-vindo o prazer, nossos corpos eram repletos de saúde e nossos corações abarrotados de felicidade.
Minha infância e minha juventude foram marcadas por solos de cavaquinho e violão. Quando não, de banjos e bandolins, por isso entranhou-se-me o gosto pela música brasileira.
Eu tenho a impressão de que naqueles tempos ouvia mais chorinhos do que sambas, nada mais brasileiro do que o chorinho dos apóstolos Pixinguinha e Valdir de Azevedo.
Quando eu tinha apenas oito anos, na Chácara das Bananeiras, ali perto onde hoje é o Presídio Central, passava de três a quatro tardes por semana a ouvir estes instrumentos de corda cadenciados por um surdo e por um pandeiro.
O regional ia se formando aos poucos, sob a batuta do violão do seu Aiala, depois chegava o violão de sete cordas do Alfredo Massarico, o cavaquinho do Vino. Como é que não iria se colar à minha pele e ao meu espírito a música brasileira?
A gente é o que foi educado. Eu fui educado a ouvir os mestres das cordas debaixo de uma bergamoteira, todas as tardes. Decorava todas as letras e melodias. Hoje, quando recordo músicas que foram sucesso 70, 60 anos atrás, as pessoas que me ouvem ficam estupefatas:
Se Deus me fora tão
clemente
Aqui neste ambiente
De luz, formava numa
tela
Deslumbrante e bela
teu
Lanceado, pregado
e crucificado
Sobre a rosa e a cruz
Do arfante peito teu.
Ah, se eu pudesse voltar ao tempo triunfante das camaradagens e das canções!
Aquela época nunca mais voltou nem voltará.
Resta-me o consolo vivificante das recordações.
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