quinta-feira, 21 de julho de 2011



21 de julho de 2011 | N° 16768
LETICIA WIERZCHOWSKI


Um grande livro

Esse texto é o depoimento de uma leitora feliz. Uma leitora que gastou boas horas das últimas duas semanas debruçada sobre as 605 páginas de Liberdade, incensado último romance de Jonathan Franzen, cujo penúltimo livro, As Correções, publicado por aqui há um punhado de anos, também passou pelo meu criado-mudo e pela minha alma.

Toda a crítica adorou Liberdade, o romance foi apontado como “o Guerra e Paz dos tempos modernos”, e na capa da edição da Cia das Letras está escrito “O romance do século”, afirmação publicada no The Guardian. Não quero que Liberdade venha a ser conhecido como o romance do século – estamos em 2011, e faltam mais de 80 anos de prosa pela frente, e algumas décadas para o próprio Franzen se superar várias vezes –, mas eu simplesmente adorei o romance.

Passei boas horas desfiando a vida de Patty e de Walter Berglund (o cara politicamente correto mais chato da história da literatura), do músico sedutor, o melhor amigo do chato, Richard Katz, dos filhos de Patty e Walter, Joey e Jéssica, e de toda uma cornucópia coloridíssima de personagens – os amores, desafetos, casos passageiros, os colegas, vizinhos e patrões dos Berglund.

Um grande livro, sim, senhores. No tamanho e na façanha que abarcou: seguir uma família desde o momento em que ela começa a se formar, quando dois jovens por acaso se encontram, sem saber ainda que ficarão juntos, até muito depois da dissolução dessa família modelo (os Berglund), através dos anos, da falta de tesão, dos altos e baixos da política americana, da faina de salvar o planeta do caos final, da ferrugem da modernidade, impregando-se por tudo com suas garras virtuais.

Um livro de minúcias, com um comecinho um pouco chato – e fica aqui o meu conselho: vença, caro leitor, as trinta páginas iniciais do capítulo “Bons Vizinhos”; vença-as em prol das mais de 500 páginas que virão a seguir.

Acontece tanta coisa, e de maneira tão intensa, que terminei o livro com lágrimas nos olhos, chorando pelo chato do Walter Berglund que, afinal de contas, era a melhor pessoa de todas as que já pisaram no mundo erguido por Franzen. (E não tinha uma canção que falava assim? Ah, todo chato é bonzinho, nunca nos fez nenhum mal...)

Assim, deixe a preguiça de lado e atravesse as 600 páginas de Liberdade. Não é qualquer romancista que consegue erguer uma história de amor que dure tanto e dê tantas voltas. E, mais tarde, ou ainda antes, agarre-se ao igualmente saboroso As Correções. Depois de Phillip Roth, Jonathan Franzen é meu escritor americano em ação favorito.

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