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segunda-feira, 25 de julho de 2011
25 de julho de 2011 | N° 16772
L. F. VERISSIMO
Aquele olhar
Antigamente, depois que erravam um chute a gol, os jogadores batiam com a chuteira no chão. Era uma maneira de culpar um desalinhamento passageiro do pé, ou alguma imperfeição da chuteira, pelo chute torto. A batida no chão corrigiria o defeito. Felizmente, a hipocrisia acabou e hoje nenhum jogador faz isto.
O gesto mais repetido depois de um gol perdido é o das mãos na cabeça, significando que nem ele acredita no que aconteceu. De certa maneira, a culpa foi transferida da matéria – o pé descalibrado, a chuteira traiçoeira – para a destino, para o etéreo. Enfim, para longe. O chute errado é do jogo. Pertence aos imponderáveis do futebol. Aquelas coisas que enlouquecem torcedores e derrubam técnicos, mas contra as quais nada se pode fazer.
Os quatro jogadores da seleção brasileira que erraram os chutes na decisão por pênaltis do jogo com o Paraguai fizeram a mesma coisa depois dos chutes (três para fora, sendo um para outro Estado, e um nas mãos do goleiro). Os quatro olharam para a marca de pênalti como se olhassem para alguém em quem confiavam e que acabava de se revelar um calhorda, com incompreensão e ressentimento. O olhar dizia muita coisa.
Culpava a marca de pênalti, e através dela todo o gramado, plantado, era o que parecia, sobre areia movediça, pelo vexame.
Dizia: “O que é que eu estou fazendo aqui, neste pântano, quando podia estar na Europa jogando em grama cultivada, com curso de extensão universitária?” Dizia: “O que vai ser do mundo, se uma reles marca de pênalti, que não tem patrocínio nem da Adidas, nem da Nike, nem sequer do fornecedor da cal, pode sabotar o chute de um pé milionário como o meu, e ainda ficar rindo desse jeito?!” Dizia: “Eu estou ficando louco ou essa marca se mexeu?”.
Mas o que o olhar dos quatro dizia acima de tudo era que a culpa não era deles nem do imponderável, era da marca de pênalti. A mesma marca de pênalti não tinha atrapalhado os paraguaios? Mais uma prova da sua calhordice, concreta e explícita. O mínimo que se quer num jogo de futebol internacional é que as marcações do campo sejam neutras. E aquela marca de pênalti era claramente uma torcedora.
Quer dizer: o olhar dos quatro foi o equivalente a baterem com a chuteira no chão, como antigamente.
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