quarta-feira, 13 de julho de 2011



13 de julho de 2011 | N° 16759
MARTHA MEDEIROS


Uma tarde com Claude Troisgros

Quando recebi o convite para ser uma das participantes do programa especial de inverno que o chef Claude Troisgros estaria gravando em Gramado, na Pousada La Hacienda, minha primeira reação foi repetir em voz alta o nome do programa:

“Que marravilha!” Gosto do canal GNT, admiro o cozinheiro, sou fã de Gramado e estava doida para conhecer o La Hacienda, que todo mundo dizia ser um lugar encantador – e é. Então respondi que sim, sim, sim e só quando fui colocar a cabeça no travesseiro é que me perguntei: será que deveria ter avisado que sou uma negação na cozinha?

Já escrevi uma crônica intitulada Chata Pra Comer que foi inspirada na adolescente que fui. Hoje já não sou tão abominável, mas ainda guardo características daquela garota que não comia nenhuma verdura, nenhum legume e só uma ou duas frutas.

Que não passava manteiga no pão, tinha medo de molhos e o único tempero que tolerava era o sal. Hoje as coisas mudaram bastante, mas ainda tenho implicância com alimentos cuja textura é viscosa, como o champignon, e tenho verdadeiro horror a ovo.

Quando se aproximava a data da gravação, a produtora me avisou que o prato que Claude prepararia, durante nossa conversa em frente às câmeras, seria ovos pochê. E agora, meu São Benedito? Falo ou não falo? Falo. “Olha, não tenho boa relação com ovos”. Ela foi gentil como eu esperava e disse que não haveria problema algum, que poderia trocar de prato. Eu gostava de croque monsieur? Uau, quem não gosta? Perfeito, então seria croque monsieur com champignons. Hummm... agora sim.

Foi uma tarde adorável. Claude é um homem simpático, divertido e cozinha sem nenhuma afetação, com entrega e prazer genuínos. Um francês típico que mete o dedo dentro da panela e o leva à boca, que pega tudo com as mãos, faz sujeira, derrama, ou seja, quase igual a nós, não fosse pelo resultado sublime.

Na minha lista de 50 coisas a fazer antes de morrer (100 é para quem tem tempo para esbanjar), está aprender a cozinhar. Fazer das refeições uma arte, mas uma arte sem esnobismo, uma arte sem stress, uma arte que nem pareça arte pela facilidade da coisa.

Ficar íntima dos aromas, deixar de ser maníaca e transformar em festa qualquer lanche mais incrementado. E, claro, compartilhar com as pessoas que amo, pois a culinária é uma atividade generosa por natureza – ainda que eu também me excite com a ideia de cozinhar só para mim mesma, pelo menos na etapa dos ensaios.

Está na hora de me aventurar em terreno estranho. Cozinha sempre foi para mim o melhor lugar da casa para conversar, nada além. Daqui para frente, espero que vire meu segundo escritório. Tudo por causa do croque monsieur mais delicioso que comi na vida – apesar do champignon.

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