quarta-feira, 20 de julho de 2011



20 de julho de 2011 | N° 16767
DIANA CORSO


Relatos de viagem

Em um restaurante apertado participava involuntariamente da confraternização da mesa ao lado, onde um grupo era agraciado com uma exibição de fotos de viagem. Não os invejei. Lembrei da minha infância, de enfadonhas sessões de slides de viagem que os adultos promoviam.

Os visitantes chegavam com uma caixa cheia de imagens, escurecia-se a sala e todos acompanhavam os detalhes do carro alugado, a fachada do hotel, o guia simpático, o restaurante imperdível, a paisagem, o monumento, um verdadeiro massacre!

Com ou sem slides, ao voltar todos queremos relatar a experiência, mas a empatia angariada sempre é parca. Por vezes disfarça-se o relato como se fosse uma iniciação: “vou te dar umas dicas que podem tornar tua própria viagem imperdível”, as quais raramente são seguidas.

Viagens são percursos intencionalmente significativos: sonhamos encontrar uma tradição, um glamour, um gozo, prazeres, exotismos, lugares que planejamos admirar, aproveitar. Porém, chegados ao destino, o lugar estranho exige adaptação, a sobrevivência perde todos seus automatismos e lutamos para construir rotinas mínimas em cada ponto do caminho. Vivemos experiências difíceis de classificar e compreender.

Mais do que para lembrar, pois raramente são vistas, as fotos servem para tentar reter o cenário que temos dificuldade de decodificar. Uma vez uma jovem me disse sobre a foto de viagem que me mostrava:

– Fotografei para olhar depois.

Ela tinha razão, por vezes nosso olhar parece insuficiente.

Lembro do relato de um casal conhecido: um desastrado passeio de carro a um lugar estranho, que sequer era típico, folclórico ou acolhedor. Um trajeto insólito, que nem eles mesmos entendiam por que tinham feito. A história era imperdível, não pela qualidade da aventura, que era nenhuma, mas pela capacidade narrativa da dupla. Eles falavam da própria surpresa por terem armado essa cilada para si mesmos e da comédia de erros em que ela se transformou.

Histórias de viagem são uma arte para poucos, e sem qualidade literária os relatos são chatos por não transmitir nada. Não merecem melhor ibope do que detalhes sobre a cor escolhida para a parede do quarto, o enguiço do micro-ondas, o tratamento dentário, a restituição do imposto...

Quando esta coluna for publicada, estarei viajando. Farei minhas fotos, comprarei bugigangas, mesmo que se trate de um descansinho trivial, não de uma volta ao mundo ou aventura exótica. Mas não se preocupe o leitor: como viajante sou tristemente banal, na volta não vos torturarei com meus relatos.

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