sábado, 30 de julho de 2011



31 de julho de 2011 | N° 16778
PAULO SANT’ANA


Os lentos e os apressados

Tenho amigos que são lentos e tenho amigos que são apressados demais.

Tenho um amigo tão lento (não cito seu nome porque ele pode levar a mal), que demora uma hora e meia no banho. Sei porque foi sua mulher que me disse.

E tenho amigos tão apressados, que, quando conversamos, eles não prestam atenção no que eu digo porque estão empenhados em raciocinar sobre o que vão me dizer quando eu cessar de falar.

O Lauro Quadros, meu inimigo, é o sujeito mais apressado que conhecemos aqui na RBS. Ele nunca se detém para falar com ninguém. Quando alguém o chama, ele continua caminhando e comprime a pessoa que o acompanhe nos passos, só assim a atende.

O Lauro Quadros é a única pessoa do mundo que nunca tomou cafezinho com ninguém. Ele se recusa a parar em qualquer lugar, está sempre em andamento. Alega sempre, para evitar falar com qualquer um, que tem de ir ao banco. Se não for horário de banco, ele alega qualquer outro compromisso e continua caminhando. Não para nunca.

O Lauro Quadros, quando está em casa, à noite, em companhia da Maria Helena, sua mulher, vê televisão de pé: pronto para qualquer emergência.

Já o Siqueira é um outro amigo meu muito apressado. Ele entra no restaurante e já diz para o garçom, antes de sentar-se: “Por que ainda não trouxe o vinho?”.

O Siqueira, quando anda de táxi, sempre paga a corrida ao taxista antes de chegar ao destino. Porque basta estacionar o táxi e ele já sai correndo.

Interessantes as pessoas. E tenho uma curiosidade louca para saber como fazem sexo esses meus amigos lentos e apressados.

Os lentos devem agradar a suas mulheres, os apressados as desagradam, acho que é assim que funciona.

O Jurandir é tão apressado, que nunca pronunciou a palavra “alô” no telefone: ele já sai falando o que lhe interessa e jamais qualquer ligação sua demorou mais de um minuto.

Interessante é que se dá o seguinte com meus amigos no trânsito: os lentos andam em alta velocidade quando dirigem e os apressados chegam até a ser chatos, tão devagar eles trafegam.

Já um amigo que não vou citar o nome por motivo óbvio, quando vai receber uma conta, fica se coçando ansioso para que o devedor quite logo a dívida, completamente ao contrário de outro amigo que, quando vai pagar a conta, diante do credor, leva cerca de meia hora para assinar o cheque.

E finalmente uma sobre o Luiz Tesch, o meu amigo mais apressado: quando vai assistir a um show e o público delira com o artista e grita “bis, bis, bis”, ele a pleno pulmões vocifera: “A seguinte, a seguinte!”.

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