terça-feira, 19 de julho de 2011


CLAUDIA ANTUNES

Nossos Sudões do Sul

RIO DE JANEIRO - Há dez dias foi fundado o Sudão do Sul, um dos países mais pobres do mundo, que por muitos anos dependerá da ajuda externa.

A decisão, tomada em plebiscito pelos habitantes da região, foi festejada por organizações internacionais que oferecem o pouco de assistência social ali existente e por países que, ao apoiarem a separação, terão mais chance de vir a explorar as reservas petrolíferas locais.

A secessão pode ser considerada, no máximo, a solução menos pior, depois do fracasso em se alcançar um pacto para dividir as riquezas e estender direitos iguais a todos os sudaneses. A Frente de Libertação do Povo, à frente do novo Estado, não defendia originalmente a divisão do território, mas o fim da tirania instalada em Cartum.

Uma análise simplificada reduziu aquela disputa à oposição entre árabes do norte e negros africanos. Acontece que o Sudão do Sul não nasceu em decorrência dessa suposta incompatibilidade atávica, ademais matizada por séculos de migrações internas. Como todas as nações, ele foi construído por um programa político.

Há um paralelo com os grupos que, no Norte e no Nordeste do Brasil, reivindicam a criação de Estados próprios. Na busca de adeptos para sua causa, parte deles apela às especificidades de tradições locais. Essas afinidades, porém, são apenas a cobertura de um bolo cuja massa foi fermentada pelo choque de ambições por poder.

Novas unidades federativas parecem uma solução fácil diante das divergências persistentes sobre fórmulas de compartilhamento de receitas e da falta de transparência de governos estaduais.

No entanto, se um sentido maior de justiça não se impuser a interesses particulares e à cobiça por cargos e dinheiro, esse é um conflito que continuará a se reproduzir até que cada um acredite que pode ser autossuficiente dentro de casa.

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