terça-feira, 19 de julho de 2011



19 de julho de 2011 | N° 16766
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Mais Simões Lopes Neto

Não sei por quê, mas o fato é que os pelotenses se referem ao grande escritor Simões Lopes Neto como “João Simões”, nada mais. Concordo que dizer sempre “Simões Lopes Neto”, ou “João Simões Lopes Neto”, é um tanto comprido demais; por isso mesmo há costume de abreviar o nome dos grandes escritores, como forma de simplificar a vida e de mostrar intimidade – assim é que Joaquim Maria Machado de Assis vira “Machado”, Graciliano Ramos fica em “Graciliano” e Guimarães Rosa se reduz a “Rosa” (mas também a “Guimarães”, para desconforto da minha audição).

Então “João Simões” se explica por esses dois fatores, acrescido de outro, a eufonia, aquele simpático eco da nasal.

Um pelotense versado em João Simões, Carlos Francisco Sica Diniz, biógrafo e pertinaz leitor do grande escritor de cem anos atrás, acaba de dar ao mundo mais uma edição da obra daquele conterrâneo que deveria ser muito mais lido.

E não apenas nova edição: trata-se de uma edição artesanal, levada a efeito pela famosa Confraria dos Bibliófilos do Brasil, presidida por José Salles Neto. (Para eventual contato, há o email conbiblibr@yahoo.com.br.) A edição vale a pena conhecer, por duas ordens de motivos.

O primeiro tem a ver com a materialidade do livro. Trata-se de um álbum, capa dura e, mais importante ainda, impresso artesanalmente, conforme a nota final esclarece, dando nome e sobrenome dos tipógrafos envolvidos, do serígrafo, da encadernadora e da artesã responsável pela confecção do papel. O papel é um gosto ao tato, como dá para imaginar. Não menos importante, a edição é toda ilustrada por gravuras de Zorávia Bettiol, que dispensa apresentação.

O segundo é de ordem literária. O organizador optou por reunir 14 contos e a lenda do Negrinho do Pastoreio, passando portanto ao largo das organizações originais dos textos simonianos. Mais ainda, entre os contos recolheu nove contos do livro Contos gauchescos, de 1912, e os colocou entremeados com outros cinco contos dos Casos do Romualdo, livro póstumo de Simões Lopes Neto, saído à luz por esforço de Carlos Reverbel, em 1952.

Resultou uma vizinhança inédita, que faz o leitor passar de tragédias como No Manantial para o drama de Trezentas Onças e daí ao bom humor de Ataque de Marimbondos.

Novo ritmo para a leitura é o que a dinâmica de Sica Diniz proporciona, renovando o interesse pelo sensacional escritor, que atende quando chamado por qualquer das combinações de nomes, bastando o apelo do leitor, aqui e agora.

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