sábado, 9 de julho de 2011


Ruth de Aquino

A lição do caso Strauss-Kahn

O homem que domina todas as conversas em Paris é Dominique Strauss-Kahn – e sua ressurreição. A mídia francesa ataca o moralismo americano e a condenação antecipada de DSK. A dúvida é se, inocentado, ele tentará ser eleito presidente da França em 2012 ou se o desgaste do sexo com a camareira do hotel foi forte demais. DSK está nesta página porque eu acreditei na versão da camareira da Guiné – assim como o FMI, o promotor americano e a maioria da imprensa mundial. Uma versão que vem sendo demolida aos poucos.

Tudo leva a crer que eu, como tantos, me precipitei e cometi um erro ao analisar o caso pela ótica da africana descrita como “exemplar” no emprego e em sua comunidade. De “estuprador de muçulmana”, DSK teria passado a ser apenas o cliente pão-duro de uma prostituta imigrante e mentirosa, namorada de um presidiário traficante de drogas.

Isso, claro, se as últimas informações surgidas sobre o escândalo forem verdadeiras – porque, como percebemos, indícios não são provas. A mídia está escaldada. Todos aprendemos com esse episódio. DSK também aprendeu, espera-se.

O mais provável é que nunca se saiba o que realmente aconteceu na suíte 2.806 do Hotel Sofitel entre DSK e Nafissatou Diallo. Ela é mesmo prostituta? O sexo foi consensual? DSK foi violento ao cobrar o serviço sexual e ela quis se vingar? Ele não pagou o que devia?

Ela quis chantageá-lo após o sexo oral e ele não cedeu à pressão de uma oportunista? Sabe-se que o ex-diretor do FMI não foi execrado apenas pela palavra da camareira. O passado o condenou. Outras mulheres, que ele supostamente tentou seduzir à força, resolveram falar – e contribuí­ram para dar veracidade ao crime de estupro.

A convicção do promotor americano parecia forte. Sem provas definitivas, como a Justiça dos Estados Unidos poderia algemar um passageiro já embarcado na primeira classe do avião com destino à Europa, proibir liberdade sob fiança e, depois, submetê-lo à prisão domiciliar, em troca de um cheque-depósito de US$ 5 milhões?

DSK foi obrigado a usar bracelete eletrônico. Em Manhattan, vizinhos do apartamento alugado por sua mulher se recusaram a tê-lo no prédio. De executivo poderoso e político influente, tinha se tornado, para a opinião pública, um homem asqueroso e inconveniente.

Caso o processo seja realmente anulado, DSK poderá exigir dos Estados Unidos uma indenização bilionária por danos morais. A reviravolta deixa uma lição conhecida. Com todas as evidências em contrário, o réu pode ser inocente. Mesmo condenado em tribunal, a Justiça pode errar. Inocentes chegam a ficar muitos anos na prisão.

No final, a mulher de DSK sorriu ao lado dele e celebrou sua libertação. Que homem faria o mesmo?

A sociedade adora culpados, especialmente quando são ricos e poderosos. Hoje, em reuniões sociais, há sempre uma turma barulhenta que odeia o empresário Eike Batista simplesmente porque ele nasceu rico, ficou mais rico ainda e admite abertamente que quer ser o homem mais rico do mundo. Não importa se é empreendedor, se cria empregos.

Dar R$ 20 milhões por ano para a pacificação no Rio de Janeiro até 2014 se torna um acinte, prova de culpa em troca de favores escusos, jamais uma benfeitoria ou uma aposta na cidade onde vive. Para essa turma, Eike já nasceu condenado. É vilão.

DSK foi aparentemente injustiçado, mas não dá para exaltar suas qualidades como homem. Não é louvável seu alegado ataque a uma jornalista francesa, Tristane Banon, que o acusou formalmente na quarta-feira passada de tentar estuprá-la em 2003. O episódio recente no hotel de Manhattan não engrandece a biografia de DSK. Não engrandece a Justiça americana. Nem muito menos a camareira imigrante. Está difícil encontrar um mocinho ou uma mocinha nesse filme.

Talvez a única “mocinha” seja a mulher de DSK, Anne Sinclair, que ficou a seu lado, leal e fiel. Um leitor me pediu para discorrer sobre o que leva uma mulher a sorrir para as câmeras depois de sofrer uma traição pública. Eis algo surpreendente. Que homem no mundo pagaria a fiança e celebraria a libertação de sua mulher num restaurante caro se ela admitisse ter feito sexo consensual com o faxineiro?

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