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sexta-feira, 22 de julho de 2011
Deixem os gays em paz
22 de julho de 2011 | N° 16769
DAVID COIMBRA
Agora você vai me dizer uma coisa: qual é o problema de um cara fazer sexo oral em outro cara no meio do Parcão às duas da madrugada? Que mal eles estão praticando? Ah, a senhora sua mãe ou seu filho pequeno ou a sua esposa não gostariam de ver dois homens transando na rua. Certo.
Em geral, o sexo há de ser mesmo um exercício privado, as pessoas não apreciam o espetáculo da intimidade das outras pessoas, salvo quando assistem ao Big Brother. Mas a senhora sua mãe, o seu filho pequeno e a sua esposa andam passeando pelo Parcão às duas da madrugada???
Que eu saiba, não há muita gente fazendo sexo nas calçadas de Porto Alegre às quatro da tarde. Não. Os gays esperam a tal calada da madrugada, embrenham-se nas entranhas do Parcão ou da Redenção, metem-se sob as moitas e debaixo das árvores, e lá se repoltreiam e se refocilam e espadanam.
Qual é o dolo disso? Quem está sendo lesado? Eles não estão se agredindo, eles não estão se batendo, eles estão fazendo sexo, ou, como preferem alguns, amor. Não é algo bom fazer amor?
Na Europa, há parques que são cercados à noite? A resposta é sim. E na Europa há parques em que as pessoas tomam banho de sol nus, e na Europa há parques em que as pessoas fazem sexo nos recônditos, sem serem incomodadas. Se alguém procura um policial para se queixar, o policial perguntará:
– Por que o senhor foi lá?
Os intestinos dos parques de Porto Alegre são usados para estupros e assassinatos? Nesse caso, a polícia tem mesmo de intervir. Estupros e assassinatos são crimes dentro e fora de parques. Mas não me parece que seja esse, de fato, o motivo do escândalo. Li a reportagem a respeito, na Zero Hora de segunda-feira.
Das 10 fotos que denunciavam “abusos” cometidos nos parques, nenhuma registrava um crime e oito eram de, digamos, conteúdo sexual. Uma dessas flagrava camisinhas rojadas ao chão. O que, por um lado, preocupa: estão sujando as ruas da cidade. Por outro, tranquiliza: estão fazendo sexo seguro.
Mais preocupantes são outras duas fotos, que mostram prostitutas e michês oferecendo seus serviços a céu aberto. Temo por esses profissionais. Estão expostos à violência urbana, tendo de trabalhar assim, ao léu, sem proteção do Estado. Fosse essa cidade menos hipócrita, prostitutas, michês e travestis teriam ruas seguras para trabalhar. Eles e seus ávidos clientes não precisariam arriscar-se nos desvãos dos parques ou em ruas ermas.
Tempos atrás, ouvi o grande Antônio Carlos Macedo entrevistar um delegado em seu programa na Gaúcha. Esse delegado recomendava aos porto-alegrenses que não parassem sob o sinal vermelho dos semáforos à noite.
Que olhassem para os lados e cruzassem a rua com cautela. Quer dizer: um delegado, um agente da lei, recomendava que se cometesse uma infração.
Por quê? Porque deter-se em um sinal vermelho à noite, em Porto Alegre, acarreta risco grave. A pessoa pode ser assaltada, pode ser sequestrada, podem meter-lhe um revólver no nariz e arrancá-la do volante de seu próprio carro e prendê-la no porta-malas e levá-la para um morro e lá executá-la com um tiro na nuca.
É o que acontece à noite, nas ruas de Porto Alegre. E, enquanto isso, a polícia está ocupada em encher o saco dos gays do Parcão.
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